Trilhas de “migalhas” podem revelar cometas perigosos antes de chegarem à Terra
Existem cometas que têm algum risco de atingir a Terra ao longo das suas trajetórias ao redor do Sol. Para encontrá-los, pesquisadores liderados por Samantha Hemmelgarn, da Universidade do Arizona, sugerem seguir a “trilha de migalhas” deixadas por eles, ou seja, trabalhar com os fragmentos rochosos que deixam pelo espaço e que criam chuvas de meteoros em nosso planeta.
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Cometas como o A3 Tsuchinshan-ATLAS, que ficou conhecido como “Cometa do Século”, são visitantes poucos frequentes. Parte deles nasce nas regiões mais frias do Sistema Solar e são considerados cometas de período longo (ou “LPC” na sigla em inglês), que se aproximam do nosso astro uma vez a cada 200 anos ou mais.
Cometas deixam fragmentos para trás conforme viajam ao redor do Sol (Imagem: Reprodução/Nima Sarram/Unsplash)
Os LPCs podem ser responsáveis por até 6% dos impactos de objetos espaciais em nosso planeta. Por outro lado, há poucos deles que são conhecidos e que ficam a até 7,5 milhões de quilômetros da Terra, distância considerada curta em termos astronômicos.
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Para detectá-los, pesquisadores sugerem usar a “trilha de migalhas” deixadas por eles conforme se aproximam do Sol e são aquecidos. O processo faz com que uma trilha de rochas e poeira seja disparada dos cometas e forme um fluxo de meteoroides paralelo com aquele da trajetória deles.
Quando a Terra passa pelo fluxo de meteoroides, estes fragmentos rochosos causam belas chuvas de meteoros, cujos rastros podem revelar a velocidade e direção dos objetos. Desta forma, os cientistas podem descobrir os cometas “pais” dos pedaços de rocha.
Apesar de muitos LPCs terem brilho fraco demais para serem detectados pelos telescópios atuais, o futuro observatório Vera C. Rubin pode flagrá-los até um ano antes de representarem riscos para a Terra. Para testar a estratégia, os autores analisaram 17 chuvas de meteoros cujos LPCs são conhecidos. Com base nas propriedades das chuvas, eles geraram vários LPCs sintéticos, um para cada fluxo de de meteoroides.
Chuvas de meteoros são causadas por fragmentos de cometas e asteroides (Imagem: NASA/JPL)
Depois, posicionaram os grupos de cometas a distâncias que os deixariam brilhantes o suficiente para serem observados pelo Vera Rubin. No fim, eles compararam os locais das famílias de cometas sintéticos com suas posições reais e descobriram grande correspondência: as posições dos cometas reais estavam bem alinhadas com as dos sintéticos, e muitos estavam próximos dos centros dos seus respectivos aglomerados artificiais.
Ainda, eles perceberam que a projeção da trajetória inversa dos meteoroides ajudou a restringir as áreas onde os cometas poderiam estar. Finalmente, a identificação dos cometas com potencial perigoso enquanto estavam a milhões de quilômetros de distância forneceu maior tempo de alerta para a equipe, algo extremamente importante para a defesa planetária.
No entanto, a técnica tem suas limitações: ela não permite a identificação de cometas perigosos com período orbital acima de 4 mil anos, porque seus fluxos de meteoros seriam diluídos demais para serem detectados da Terra. Mesmo assim, o método é promissor. “Esperamos que com o Legacy Survey of Space and Time (LSST) [do Vera C. Rubin] possamos detectar cometas em órbitas que cruzam a da Terra muito antes do que conseguimos no momento”, finalizou.
O artigo com os resultados foi disponibilizado no repositório arXiv.
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