Tamanho é documento? Entenda por que um cérebro grande não é sinônimo de inteligência
A expressão “tamanho é documento” sugere que algo maior é necessariamente melhor ou mais eficiente. No entanto, quando se trata do cérebro e da inteligência, essa ideia não se sustenta. Vamos explorar por que um cérebro grande não é sinônimo de inteligência.
O tamanho do cérebro não é o único fator determinante da inteligência. Embora cérebros maiores possam ter uma capacidade maior de processamento, a inteligência é uma característica complexa influenciada por diversos fatores.
O cérebro humano médio pesa cerca de 1,4 kg. Apesar de ser maior do que o de muitos outros animais, o tamanho absoluto não é o fator determinante para a inteligência. Alguns animais, como elefantes e baleias, têm cérebros muito maiores que os humanos, mas não demonstram o mesmo nível de inteligência ou capacidade cognitiva.
Agora, vejam os corvos e papagaios, por exemplo, com cérebros relativamente pequenos, exibem notável inteligência e capacidade de resolução de problemas. E para citar mais um caso, os neandertais tinham cérebros ligeiramente maiores que os humanos modernos, mas não desenvolveram a mesma complexidade cultural ou tecnológica.
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Cérebro grande é sinônimo de inteligência?
Vamos explorar alguns fatores para explicar que apenas um cérebro grande não garante a inteligência. Em termos de complexidade e estrutura, podemos explorar dois pontos: conectividade e córtex cerebral.
A inteligência está mais relacionada à complexidade das conexões neuronais (sinapses) do que ao tamanho do cérebro. Um cérebro com mais conexões e redes neurais eficientes pode processar informações de maneira mais rápida e eficaz.
Já a espessura e a organização do córtex cerebral, responsável por funções como pensamento, linguagem e consciência, são mais importantes do que o volume total do cérebro.
Em termos de eficiência energética o tamanho também não é uma vantagem. O cérebro humano consome cerca de 20% da energia do corpo, apesar de representar apenas 2% do peso corporal. Um cérebro maior exigiria mais energia, o que poderia ser menos eficiente em termos evolutivos.
Podemos observar também fatores genéticos e ambientais que influenciam mais a inteligência do que um cérebro grande.
Genética: a inteligência é influenciada por uma combinação de fatores genéticos, que determinam a estrutura e a função do cérebro.
Ambiente: experiências, educação, nutrição e estimulação cognitiva também desempenham um papel crucial no desenvolvimento da inteligência.
A complexidade das conexões importam mais para a inteligência
Alguns estudos e pesquisas relevantes que exploram a relação entre o tamanho do cérebro e a inteligência, bem como outros aspectos da neurociência, ajudam a entender por que o tamanho do cérebro não é o único fator determinante para a inteligência.
Em 2009, os autores J. Philippe Rushton e C. D. Ankney publicaram um estudo intitulado “Brain size and intelligence: A critical review of the evidence” (que pode ser traduzido como “Tamanho do cérebro e inteligência: uma revisão crítica de evidências”), que revisou a literatura sobre a relação entre o tamanho do cérebro e a inteligência.
Embora haja uma correlação moderada entre o volume cerebral e o QI (em torno de 0,3 a 0,4), outros fatores, como a densidade neuronal e a eficiência das conexões sinápticas, são mais importantes para a inteligência.
A neurocientista Suzana Herculano-Houzel descobriu que a densidade neuronal (número de neurônios por unidade de volume) é mais importante do que o tamanho total do cérebro. Por exemplo, o cérebro humano tem uma densidade neuronal maior do que o de elefantes, o que pode explicar nossa maior capacidade cognitiva.
Esses e outros estudos mostram que, embora haja uma correlação entre o tamanho do cérebro e a inteligência, ela não é determinante. A complexidade das conexões neurais, a densidade neuronal, a organização cerebral e a eficiência energética são fatores mais relevantes para a capacidade cognitiva. Portanto, a ideia de que “tamanho é documento” não se aplica ao cérebro e à inteligência.
O cérebro de Albert Einstein pesava aproximadamente 1.230 gramas, um pouco menor que a média do cérebro humano adulto, que é em torno de 1.400 gramas. Apesar do tamanho menor, estudos mostraram que ele tinha características únicas, como um córtex pré-frontal mais desenvolvido e conexões neurais incomuns, o que pode ter contribuído para sua genialidade. Isso reforça que o tamanho do cérebro não é o fator mais importante para a inteligência.
Mapa das conexões neurais
Mais recentemente, os cientistas têm se aprofundado no estudo do conectoma, um mapa completo das conexões neurais do cérebro, que está revolucionando a neurociência. Ao estudar o conectoma, os cientistas podem entender como a estrutura cerebral se relaciona com a função, a cognição e o comportamento.
Esta pesquisa está fornecendo informações sobre doenças neurológicas como Alzheimer e esquizofrenia, inspirando avanços em inteligência artificial e revelando a singularidade de cada cérebro. Embora o mapeamento do conectoma humano completo seja um desafio devido à sua complexidade, os avanços tecnológicos estão tornando isso possível.
Apesar das dificuldades, o estudo dos conectomas já levou a descobertas significativas, como a identificação de redes de repouso, a demonstração da plasticidade cerebral e a revelação de que cada conectoma é único. No geral, os conectomas são uma ferramenta poderosa com o potencial de revolucionar nossa compreensão do cérebro e da mente. Saiba mais assistindo este vídeo aqui.
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