Sismógrafos rastreiam ondas de choque de detritos espaciais na atmosfera
No dia 2 de abril deste ano, uma série de bolas de fogo iluminou o céu sobre Los Angeles e diversas áreas da Califórnia, nos EUA, gerando confusão entre os espectadores. Alguns se perguntaram se estavam observando um meteoro, um foguete explodindo ou um objeto voador não-identificado (OVNI).
Mais tarde, astrônomos confirmaram que eram detritos da espaçonave chinesa Shenzhou-15, que havia sido lançada em novembro de 2022. A reentrada descontrolada do módulo causou discussões internacionais sobre o risco do lixo espacial, mas também resultou em um avanço científico na forma como os detritos podem ser rastreados.
Detritos espaciais da espaçonave chinesa Shenzhou-15 iluminam o céu da Califórnia em 2 de abril de 2024. Crédito: Christopher H. via Eos.org
Estrondos sônicos gerados pela reentrada foram captados por sismógrafos na região de Los Angeles. Usando esses registros sísmicos, uma equipe de pesquisadores liderada pelo cientista planetário Benjamin Fernando, da Universidade Johns Hopkins, conseguiu reconstruir a trajetória dos detritos na atmosfera.
A pesquisa, apresentada esta semana durante a reunião anual da União Geofísica Americana em Washington, D.C., abre portas para o uso de sinais sísmicos no monitoramento de detritos espaciais, mesmo em áreas onde observações visuais não são possíveis.
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Equipe analisou sinais e rastreou a trajetória dos detritos espaciais
A crescente quantidade de missões espaciais tem levado ao aumento de detritos fora de controle, representando um risco real à segurança pública. Fernando se interessou pelo evento de abril ao perceber que os estrondos eram ouvidos por muitas pessoas em Los Angeles.
Ele imaginou que, se humanos podiam ouvir os sons, os sismógrafos poderiam captar os mesmos sinais. “Câmeras e radares são úteis, mas limitados, especialmente em regiões remotas”. Os sismógrafos, por outro lado, são extremamente sensíveis a vibrações, o que torna possível detectar até os menores sinais de eventos atmosféricos como este.
Após coletar dados sísmicos de várias estações de monitoramento, a equipe conseguiu analisar os sinais e rastrear a trajetória dos detritos, velocidade, tamanho e o caminho que percorreram antes de se desintegrar.
Esse método oferece uma nova maneira de monitorar objetos espaciais e pode ser útil, por exemplo, para prever a possível queda de detritos em áreas densamente povoadas, caso esses sinais sejam detectados a tempo.
O Evento envolvendo a nave Shenzhou-15 foi um dos primeiros em que detritos espaciais foram rastreados com a ajuda de sismógrafos sem qualquer aviso prévio. Isso pode ser crucial para detectar objetos em áreas mais remotas, onde a cobertura de radar e câmeras é limitada.
O desafio de usar sismógrafos para monitorar detritos espaciais não é simples, principalmente devido às complexas condições atmosféricas e aos efeitos dos ventos. No entanto, o método promete se tornar uma ferramenta valiosa, como destacou Kathleen McKee, geofísica de vulcões da Universidade Vanderbilt, em um comunicado. “Apesar das dificuldades, é uma pesquisa com grande potencial para melhorar a segurança pública”.
Essa abordagem inovadora pode, no futuro, ajudar cientistas a prever com mais precisão os impactos de detritos espaciais ao reentrarem na atmosfera, proporcionando um alerta mais rápido e eficiente.
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