Review: Yu-Gi-Oh! Early Days Collection leva fãs à vanguarda de duelos
Eu sou e sempre serei defensor de uma boa coletânea. Não só pela questão da preservação em si, por permitir o acesso legal ao jogo — o que talvez seja o principal pretexto para sua existência —, mas também por dar nova vida a experiências que merecem uma, digamos, segunda chance de serem conhecidas por audiências mais jovens.
Febre dos anos 2000, a franquia Yu-Gi-Oh! nos fez companhia por muitos anos nas manhãs de sábado e segue firme e forte até hoje com o TCG. Lembro como se fosse ontem de sentar na frente da TV de tubo, enquanto comia um pastel de feira, para assistir aos novos episódios de Yami Yugi na extinta Fox Kids — e essa breve descrição talvez tenha revelado a idade deste redator que vos escreve, mas tudo bem.
No embalo da maré boa dos TCGs, a Konami, sabendo que não se brinca com nostalgia, lançou a Yu-Gi-Oh! Early Days Collection, uma compilação com nada menos que 14 títulos, disponíveis originalmente para os portáteis da Nintendo, do Game Boy clássico ao Advance. Como fã de carteirinha do “baralho do diabo”, rótulo dado ao TCG pelo apresentador Gilberto Barros, não tenho como esconder: eu amei tudo o que pude testar aqui. Confira as impressões a seguir.
Vale o ingresso do museu
Navegar por entre os 14 títulos de Yu-Gi-Oh! Early Days foi como passear por um museu interativo. Do primeiro da lista, Duel Monsters, de Game Boy, a Yu-Gi-Oh! 7 Trials to Glory: World Championship Tournament 2005, somos convidados a celebrar o legado da obra que deu o pontapé inicial ao estilo de batalha por carta nos videogames.
A coleção, apesar de omitir os títulos do fim da vida útil do Game Boy Advance, é generosa:
Yu-Gi-Oh! Duel Monsters (1998)
Yu-Gi-Oh! Duel Monsters II: Dark Duel Stories (1999)
Yu-Gi-Oh! Monster Capsule GB (2000)
Yu-Gi-Oh! Dark Duel Stories (2000)
Yu-Gi-Oh! Duel Monsters 4: Battle of Great Duelists (2000)
Yu-Gi-Oh! Dungeon Dice Monsters (2001)
Yu-Gi-Oh! The Eternal Duelist Soul (2001)
Yu-Gi-Oh! Duel Monsters 6: Expert 2 (2001)
Yu-Gi-Oh! The Sacred Cards (2002)
Yu-Gi-Oh! Reshef of Destruction (2003)
Yu-Gi-Oh! Worldwide Edition: Stairway to the Destined Duel (2003)
Yu-Gi-Oh! World Championship Tournament 2004 (2004)
Yu-Gi-Oh! Destiny Board Traveler (2004)
Yu-Gi-Oh! 7 Trials to Glory: World Championship Tournament 2005 2004)
Com exceção de Dual Monsters 6: Expert 2, disponível apenas em japonês, praticamente todos os jogos incluem suas versões principais: americana, europeia e japonesa. O ponto negativo é que nenhum material foi localizado para o português do Brasil, nem mesmo a interface dos menus, o que parece uma decisão estranha, dada a popularidade da série em nosso país.
Em termos de conteúdo, apesar de alguns jogos serem praticamente idênticos, com mudanças sutis no portfólio das cartas — como é o caso dos títulos de Game Boy e Game Boy Color —, há bastante coisa para fazer e descobrir aqui, acredite, sobretudo nos títulos mais “recentes” de Game Boy Advance.
A possibilidade de jogar Yu-Gi-Oh! Duel Monsters 4: Battle of Great Duelists em modo multiplayer logo no lançamento é outro grande atrativo, talvez o maior, o que garante a longevidade de Early Days. A Konami, inclusive, já confirmou que outros títulos do acervo devem receber suporte para jogatina online em um futuro próximo, oferecendo alternativas ao jogador de Yu-Gi-Oh! Master Duel que busca diversão simplificada, fora do cenário competitivo.
Sem rodeios
Falando sobre os jogos especificamente, a ideia não é destrinchar um a um, e sim dar um panorama do que eles representam para a franquia. Desprendidos das mecânicas complexas dos jogos atuais — ou seja, sem Links, Pêndulos, XYZ ou outras modernidades do tipo —, os títulos clássicos são simples e valorizam turnos rápidos, num ritmo adequado para sessões curtas de jogatina.
Os títulos clássicos são simples e prezam por turnos rápidos, num ritmo adequado para sessões curtas de jogatina
Imagem: Konami/Yu-Gi-Oh! Early Days
Muitos dirão que alguns desses jogos carecem de estratégia, bastando ter o monstro mais forte para vencer. Eu até concordo, mas não vejo nada de errado nisso. A graça dos games antigos de Yu-Gi-Oh! estava justamente em montar um deck “apelão” que fosse capaz de varrer os adversários sem que eles tivessem a chance de reagir às ações dos seus monstros.
Early Days entrega uma boa combinação de títulos em que é só ligar e jogar, com uma premissa centrada em batalhas e montagem de decks, apesar de incluir opções que se aproximam mais da estrutura padrão de um RPG. No fim das contas, independentemente da fórmula adotada por cada game, o objetivo maior continua sendo expandir o deck com novas cartas. No entanto, é interessante observar como a Konami tentava diversificar o gameplay entre os diferentes produtos, especialmente na era do Game Boy Advance.
Se eu puder deixar minha recomendação, começaria por The Sacred Cards, talvez o mais próximo de um RPG entre os títulos, e Dungeon Dice Monsters, um game de estratégia baseado em um jogo de tabuleiro de Yu-Gi-Oh!, desconhecido no Ocidente, mas popular no Japão.
Imagem: Konami/Yu-Gi-Oh! Early Days
Trapaças válidas
Como é comum em boas coletâneas, Early Days introduz facilitadores para tornar a experiência mais convidativa a gerações mais novas. Você pode, por exemplo, acelerar a velocidade dos turnos e diálogos, além de salvar o progresso a qualquer momento, até mesmo durante uma partida em andamento. Também é possível usar o recurso de rewind para voltar no tempo caso não esteja satisfeito com o desenrolar de uma jogada.
Embora não haja um seletor de dificuldade propriamente dito, você pode aplicar soluções para “quebrar” o desafio dos jogos, em prol de suavizar o grind, tornando a jogatina mais amigável. Está com dificuldade para preencher o deck? Desbloqueie as cartas logo no início e aumente a capacidade máxima do seu baralho. O oponente tem cartas melhores que as suas? Derrube a restrição de cards proibidos e um abraço. Early Days deixa claro que trapaças são bem-vindas, já que o que realmente importa é se divertir e reverenciar a herança da franquia.
A Konami caprichou e fez tudo certo, mas esqueceu de nos agraciar com uma galeria de imagens. Sim, você ainda pode explorar e apreciar os manuais e as capas dos jogos, mas teria sido bacana dedicar um espaço às artes conceituais dos monstros, visto que Yu-Gi-Oh! sempre deu um cuidado especial à estética de seus personagens.
Imagem: Konami/Yu-Gi-Oh! Early Days
Vale a pena jogar Yu-Gi-Oh! Early Days Collection?
Jogar Yu-Gi-Oh! Early Days é como ouvir um disco clássico de sua banda favorita: você percebe que as músicas recentes evoluíram no aspecto técnico, principalmente em termos de produção, mas nenhuma delas consegue tocar no coração saudosista do fã como as faixas antigas. Por mais que as regras da franquia tenham avançado, nada se compara à sensação de revisitar o momento da história onde tudo começou. Nada se equipara ao “disco de ouro” de Yu-Gi-Oh! mais “cru” e coeso que os trabalhos atuais.
Se você tem qualquer tipo de memória afetiva pela série ou é aquele fã que não se cansa de pedir um remake de Forbidden Memories, saudoso jogo de PlayStation 1, saiba que Early Days é uma verdadeira injeção de boas lembranças. Mesmo com algumas omissões, a coleção é um presente de bom gosto para quem reconhece o impacto cultural da frase “é hora do duelo”.
Analisado no PC.
Uma cópia de Yu-Gi-Oh! Early Days Collection foi gentilmente cedida pela Konami para o propósito de análise.