[Review] Life is Strange: Double Exposure amplifica a estranheza, mas enfraquece o impacto
Um novo capítulo emocionante e absurdo na vida de Max Caulfield
Uma década depois, Life is Strange, icônica franquia da Square Enix, finalmente deu continuidade à história de sua primeira protagonista, Maxine Caulfield; LiS: Double Exposure é uma sequência direta do aclamado primeiro game da saga, apresentando um novo capítulo da aventura da Max após os eventos caóticos em Arcadia Bay. O game foi lançado no dia 28 de outubro, disponível para PlayStation 5, Xbox Series X/S e PC.
A Legião recebeu da Square uma cópia de Double Exposure — um convite para embarcar nos bizarros acontecimentos da Universidade de Caledon. Assim, junto de Max, desvendamos os mistérios desse lugar e já podemos dizer se essa história faz jus à estranheza do Life is Strange original. Vamos lá?
Ficha Técnica
Título: Life is Strange: Double Exposure
Data de lançamento: 29 de outubro de 2024
Desenvolvedora: Deck Nine
Distribuição: Square Enix
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X / S e PC
Modo: Single player
Gêneros: Aventura, Simulação
Tradução PT/BR: Sim
Mais estranheza, menos choque
Life is Strange é aquele tipo de jogo que, independente dos seus gêneros e títulos favoritos, é difícil você acompanhar o mundo gamer sem saber que existe, ouvir sobre sua projeção na indústria ou, enfim, levar spoiler da grande decisão final que a história impõe no jogador. É uma aventura emocionante, profunda e corajosa que influenciou boa parte dos games de narrativa e simulação desde então, mas que possui sequências de recepção mista entre fãs e crítica. Assim, que tal voltarmos para o início?
Lançado em 28 de outubro, desenvolvido pela Deck Nine, Life is Strange: Double Exposure é a continuação oficial da icônica história original da franquia, seguindo a protagonista Max Caulfield. Uma década depois dos eventos em Arcadia Bay, acompanhamos a moça em sua nova vida, agora trabalhando na Universidade de Caledon, em Vermont (nordeste dos EUA) com um novo grupo de amigos, colegas de trabalho, alunos e, principalmente, tentando enterrar o trauma deixado pela Academia Blackwell e o destino de Chloe.
Double Exposure é muito bem sucedido em sua premissa: mostrar, de diversas formas, as consequências da história do primeiro game na vida de Max – que decidiu evitar lidar diretamente com o trauma. O nível de tensão na narrativa é palpável e você sabe, desde os momentos iniciais, que uma grande explosão está vindo no horizonte, seja pelas mãos da Max, seja pelas pessoas ao redor dela que também possuem segredos engarrafados prontos para estourar.
Enquanto este capítulo da jornada da Max não é tão grotesco e assustador como as situações da Academia Blackwell foram, os mistérios e intrigas são ótimos e condizentes com a nova abordagem da protagonista com o mundo: ela amadureceu em uma mulher muito mais cautelosa, ansiosa e autoconsciente, tornando suas interações com o mundo menos caóticas. Não se preocupe, o caos ainda existe, mas, dessa vez, LiS coloca a protagonista para lidar mais com o caos alheio e não o contrário, uma decisão acertada para forçá-la confrontar seus próprios demônios de forma orgânica.
Não é exagero dizer que a narrativa de Double Exposure é uma evolução, em quase todos os aspectos, dos games anteriores, lidando com as nuances da estranha vida de Max Caulfield de uma maneira mais refinada e equilibrada. Porém, por se apoiar muito no primeiro jogo como um paralelo e apresentar cenários menos obscuros, apostando em algo mais introspectivo, essa história possui um impacto mais brando. É uma narrativa que afeta o jogador mais a longo prazo do que as situações chocantes do primeiro LiS.
Em questão de jogabilidade, o game é simples, mas efetivo. Os ambientes são limitados, porém abarrotados com informações e floreios de construção de mundo; os capítulos possuem um ótimo compasso, sem te deixar entediado ou perdido, e trazem o suficiente de missões extras escondidas para entreter sem perder o foco. E, enfim, os novos poderes da Max são muito divertidos e literalmente abrem um universo de possibilidades para a continuidade da saga.
Desde os eventos em Arcadia Bay, Max não usa sua regressão temporal. Agora, para resolver os mistérios de Caledon, a protagonista conta agora com uma nova habilidade: viagem entre linhas temporais. Double Exposure, como o título sugere, se passa em grande parte entre duas linhas do tempo e Max pode atravessá-las para resolver puzzles, procurar informações, interagir com versões diferentes do mesmo personagem e por aí vai. Ela também pode “vibrar” entre os dois tempos e visualizar ecos do que está acontecendo na outra linha, uma das funções mais legais do game.
A escolha do novo set de poderes da Max, como eles evoluem e como isso afeta o universo de LiS foi um acerto dos desenvolvedores; é um caminho “natural” para a menina que conseguia rebobinar o tempo. Ainda, adiciona à história mais questões morais sobre o uso dessas habilidades e suas consequências, não só no mundo, mas nas pessoas ao redor da protagonista.
Falando sobre eles, o novo elenco de personagens é sensacional. Sejam amigos, colegas ou aqueles relacionamentos turbulentos que amamos tanto, cada nome do game possui profundidade e desenvolvimento o bastante para você se apegar e investir nessas histórias. Ao lado de Max, Safi e Moses são ótimos e, mesmo que haja uma estranheza inicial com o grupo, a narrativa é intencional e adiciona mais camadas à jornada. Outros destaques são Vinh e Amanda, também excelentes como personagens próprios e em sua relação com a Max.
Mas, elogios à narrativa de lado, é importante embarcar em Double Exposure sabendo que às vezes os diálogos online, no messenger ou pseudo-facebook da protagonista, causarão um pouquinho de vergonha alheia. A taxa de acertos é maior que a de erros, mas o uso de gírias e formatos ultrapassados, na tentativa de simular algo “jovem adulto”, é quase sempre triste de ver. No geral, os diálogos funcionam e as interações parecem naturais e dentro do esperado para uma faculdade de humanidades em 2023. Há deslizes, no original e na versão em português, mas são mais perdoáveis que os textos de mídias sociais.
Pra deixar claro, esse é um exemplo onde o game acerta, mas atenção para o “kinga” ali no canto
Por fim, enquanto a trilha sonora do game ainda dá um show, como acontece em quase todos os jogos da franquia, misturando música ambiente, indie e folk de uma maneira profunda e emocional, Double Exposure peca visualmente. Sim, é um jogo que não conta com o maior orçamento do mundo e possui uma estética mais simples, porém, os gráficos não receberam o melhor polimento e há quedas feias de frames, além de bugs no cenário e vestimenta. Esses elementos são cruciais para um título que oferece imersão e momentos de meditação, exibindo uma sequência de cenas contemplativas (que não entregam o melhor efeito quando mostram elementos do cenário que não carregaram por completo).
Talvez, à primeira vista, Double Exposure não pareça tão grandioso e visceral quanto o primeiro capítulo da jornada de Max Caulfield, mas, intencionalmente ou não, é uma história que precisa de mais tempo para revelar suas camadas. É uma narrativa poderosa sobre o pós-tempestade, cicatrizes e como lidamos com ameaças e traumas de diferentes maneiras. Sobre barreiras, máscaras e quando são necessárias. Tudo isso com a melhor trilha sonora, personagens apaixonantes e o Natal mais universitário possível. Pode não ser visualmente perfeito, mas é eficiente no que realmente precisa mostrar, entregando uma sequência digna do primeiro Life is Strange.
A estranheza nunca foi tão natalina e intrigante! Pode ser que os últimos Life is Strange não tenham sido sua praia, mas Double Exposure é, para fãs do primeiro game e novatos, um ótimo novo capítulo da franquia e uma continuação nada óbvia, porém emocionante e divertida, da aventura bizarra da Max.
Assim, para a Legião, Life is Strange: Double Exposure leva nota 8. Poderia melhorar os visuais e ousar mais, mas é bom o bastante para ficarmos ansiosos pela próxima parte dessa saga.
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Fonte: [Review] Life is Strange: Double Exposure amplifica a estranheza, mas enfraquece o impacto“>Legião dos Heróis.