Possível planeta é descoberto em torno de estrela em velocidade recorde
Uma equipe de astrônomos pode ter identificado um sistema planetário em alta velocidade cruzando a Via Láctea. A descoberta sugere que uma estrela de baixa massa, acompanhada por um exoplaneta do tipo supernetuno, esteja se deslocando a impressionantes 540 km/s.
Caso confirmado, esse seria o sistema solar mais veloz já registrado, com quase o dobro da velocidade do Sol ao redor do centro da galáxia.
Liderado pelo pesquisador Sean Terry, da Universidade de Maryland e do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA, o estudo foi publicado esta semana no periódico The Astronomical Journal.
Segundo Terry, o planeta orbita a estrela a uma distância comparável à região entre as órbitas de Vênus e da Terra. No entanto, devido à baixa luminosidade da estrela, a temperatura seria hostil à vida. Se as análises se confirmarem, esse será o primeiro planeta detectado ao redor de uma estrela hiperveloz.
Representação conceitual de estrelas perto do centro da Via Láctea. Cada um tem uma trilha colorida indicando sua velocidade – quanto mais longa e vermelha a trilha, mais rápido a estrela está se movendo. Cientistas da NASA descobriram recentemente um candidato a uma estrela particularmente rápida, visualizada perto do centro desta imagem, com um planeta em órbita. Se confirmado, o par estabelece um recorde para o sistema de exoplanetas mais rápido já observado. Crédito: NASA / JPL-Caltech / R. Hurt (Caltech-IPAC)
Sistema foi detectado por acaso
A trajetória desse sistema estelar foi identificada pela primeira vez em 2011, por meio do efeito de microlente gravitacional. Esse fenômeno ocorre quando um objeto massivo passa à frente de uma estrela distante, distorcendo e amplificando sua luz, como uma lente natural. Os dados foram extraídos do projeto MOA (sigla em inglês para Observações de Microlente em Astrofísica), que usa telescópios da Nova Zelândia para buscar exoplanetas.
A análise inicial revelou dois corpos cósmicos: um objeto cerca de 2.300 vezes mais pesado que o outro. No entanto, determinar suas massas exatas depende da distância entre eles e a Terra. Esse efeito pode ser comparado a uma lupa: a ampliação varia conforme a posição da lente.
Ilustração do efeito de microlente gravitacional. Créditos: Encyclopaedia Britannica / Divulgação / Edição: Richard Cardial via Galeria do Meteorito
Em um comunicado, o cientista David Bennett, coautor do estudo e líder da pesquisa original de 2011, explica que identificar a proporção de massa entre os dois objetos foi simples. O desafio está mesmo em calcular suas massas reais. Os pesquisadores sugeriram duas hipóteses: um planeta errante com uma lua menor ou uma estrela de baixa massa acompanhada por um planeta grande, cerca de 29 vezes mais massivo que a Terra.
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Rastreamento da estrela e possível fuga da galáxia
Para resolver a questão, os astrônomos analisaram dados do Observatório Keck, no Havaí, e do satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA). Se o sistema fosse um planeta errante com uma lua, ambos seriam invisíveis nos telescópios. No entanto, se a hipótese da estrela fosse verdadeira, sua posição poderia ser rastreada.
Os cientistas localizaram uma candidata a estrela a cerca de 24 mil anos-luz de distância, na região central da Via Láctea. Comparando sua posição em 2011 e 2021, calcularam sua velocidade. Ainda assim, esse movimento foi medido apenas em duas dimensões. Se a estrela também estiver se afastando ou se aproximando da Terra, sua velocidade pode ser ainda maior, talvez suficiente para escapar da gravidade da Via Láctea. Com a velocidade de fuga da galáxia de aproximadamente 600 km/s, se o sistema a ultrapassar, ele pode acabar vagando pelo espaço intergaláctico.
Para confirmar se essa estrela realmente faz parte do sistema detectado em 2011, os pesquisadores pretendem observar sua posição novamente no próximo ano. Se seu movimento for consistente com a fonte da microlente, a relação será confirmada. Caso contrário, a teoria do planeta errante com uma lua ganhará força.
O futuro das buscas por exoplanetas rápidos
A descoberta abre novas possibilidades para o estudo de planetas em sistemas estelares acelerados. O Telescópio Espacial Nancy Grace Roman, da NASA, programado para entrar em operação nos próximos anos, ajudará a esclarecer esse fenômeno. Com sua capacidade de captar imagens de alta resolução e cobrir grandes áreas do céu, o telescópio poderá detectar exoplanetas orbitando estrelas em alta velocidade com mais precisão.
Atualmente, os astrônomos dependem de combinações de telescópios diferentes para obter essas informações. O MOA forneceu o primeiro indício, enquanto Keck e Gaia trouxeram dados detalhados. Por sua vez, o telescópio Roman poderá realizar todas essas observações de forma integrada, tornando a busca por sistemas planetários velozes muito mais eficiente.
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