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Por que a DeepSeek é bullish para o Bitcoin?

No mês passado a A DeepSeek, startup chinesa, lançou o R1, um modelo de IA de código aberto que rivaliza com o o1, modelo mais avançado da OpenAI em capacidade, mas com custos muito menores. O lançamento provocou uma queda superior a US$1 trilhão no valor de mercado das principais empresas de tecnologia americanas, conhecidas como “Magnificent Seven”(Mag7), questionando a premissa de dominância americana em inovação tecnológica para o longo prazo. Adicionalmente, o evento também levantou questões importantes sobre a concentração do mercado global em ações

Para entender o impacto profundo deste desenvolvimento no mercado financeiro global e suas implicações para diferentes classes de ativos, precisamos primeiro examinar o papel da DeepSeek, a natureza de suas inovações e como isso pode afetar a percepção dos investidores sobre as principais reservas de valor disponíveis atualmente.

Quem são as Magnificent Seven?

As “Magnificent Seven” (ou “7 Magníficas”) são um grupo de empresas de tecnologia amplamente conhecidas: Apple, Amazon, Alphabet (controladora do Google), Meta, Microsoft, NVIDIA e Tesla. Elas emergiram como um novo acrônimo para representar as principais ações de tecnologia da Nasdaq, sucedendo as antigas FAANGs (Facebook/Meta, Apple, Amazon, Netflix e Google), que dominaram o mercado na década anterior. Juntas, essas sete empresas chegaram a representar mais de 30% do valor total do índice S&P 500, um nível de concentração quase sem precedentes na história do mercado acionário americano.

Combinando dominância de mercado, forte geração de caixa e vantagens competitivas sustentáveis, as Mag7 se tornaram relativamente resilientes a ciclos econômicos, embora apresentem maior volatilidade em comparação com reservas de valor tradicionais, como títulos governamentais.

Essas empresas se consolidaram como uma das principais reservas de valor do mercado global, rivalizando com ativos mais tradicionais, como ouro e títulos governamentais. Investidores globais têm tratado essas ações como um “porto seguro tecnológico”, confiando em sua combinação de vantagens competitivas, capacidade de inovação e geração consistente de caixa.

Por que o DeepSeek assustou o mercado?

A DeepSeek, ao oferecer um modelo de IA de código aberto e mais barato, ameaça o modelo de negócios das empresas de tecnologia americanas, que investiram bilhões em IA proprietária. Além disso, por ser baseada na China, a startup desafia a liderança tecnológica dos EUA. Essa competição global em IA pode redefinir a confiança dos investidores nas Mag7 como ativos seguros de longo prazo.

Afirmando ter desenvolvido seu modelo R1 por menos de US$ 6 milhões, a empresa viu esse número ser contestado por outros players da indústria, como David Sacks, Conselheiro de Inteligência Artificial e Cripto do governo Trump. Caso o custo seja confirmado, o desenvolvimento de IA a um preço tão baixo representa uma ameaça direta ao modelo de negócios das empresas de tecnologia americanas, que investiram bilhões em soluções proprietárias. Além disso, o modelo da DeepSeek é mais acessível para os usuários finais em comparação com os serviços oferecidos pela OpenAI, aumentando sua competitividade no mercado global.

Em contraste com a OpenAI, que é uma tecnologia proprietária, o DeepSeek é de código aberto e gratuito, desafiando o modelo de receita das empresas americanas que cobram taxas mensais por serviços de IA. Neste sentido, a própria Meta já tem um modelo de LLM chamado Llama que é código aberto, então este fato por si só não geraria tamanho trauma no mercado.

Por estar baseada na China, a DeepSeek desafia a dominância tecnológica dos EUA em IA. O investidor de tecnologia Marc Andreessen chamou isso de “momento Sputnik” da IA, comparando-o com o avanço soviético na corrida espacial nos anos 1950.

Por que isso importa para o Bitcoin?

O avanço das IAs importa bem pouco para o sistema do Bitcoin, mesmo com os últimos avanços, elas ainda seguem sem nenhuma vantagem para quebrar criptografia e, portanto, elas não representam um risco à segurança, mas o desdobrar deste evento pode significar a perda de parte da confiança em uma das principais reservas de valor utilizadas pelo mercado tradicional: as ações das Big Tech americanas.

A confiança em uma tese de investimento é como uma estrutura que se constrói tijolo por tijolo, através de pesquisa profunda, análise detalhada e compreensão genuína do ativo ou estratégia escolhida. Este processo de construção de convicção é fundamental porque é justamente nos momentos de maior volatilidade e incerteza que essa confiança será testada. Sem uma base sólida de conhecimento e entendimento, o investidor tende a tomar decisões emocionais que podem comprometer seus objetivos de longo prazo.

O desenvolvimento dessa confiança geralmente envolve meses ou até anos de estudo, observação do comportamento do mercado, análise de diferentes cenários e, muitas vezes, pequenas posições iniciais que permitem ao investidor vivenciar na prática suas teorias. Estes anos de estudo geram percepções de macrotendências que embasam diversas teses de investimento. É um processo que demanda paciência, pois envolve não apenas entender os fundamentos do investimento, mas também como ele se comporta em diferentes condições de mercado e como se relaciona com outros ativos do portfólio.

No entanto, é surpreendente como essa confiança construída ao longo de tanto tempo pode ser severamente abalada em questão de dias ou até horas. Um único evento inesperado, uma mudança regulatória abrupta ou uma notícia negativa impactante podem fazer com que anos de convicção sejam questionados em instantes. Novos fatos podem mudar percepções e, no limite, podem até mesmo alterar macrotendências que os investidores julgavam sólidas para o longo prazo.

É nesses momentos que se torna evidente a importância de ter construído uma base sólida de conhecimento: investidores que baseiam suas decisões em pesquisa profunda e entendimento genuíno têm maior probabilidade de manter a calma e avaliar racionalmente se o evento realmente invalida sua tese original ou se representa apenas uma turbulência temporária.

As principais reservas de valor do mundo

Uma reserva de valor é um ativo que mantém seu poder de compra ao longo do tempo, resistindo à inflação e a outras formas de deterioração monetária. É um instrumento que permite aos investidores preservar riqueza através de diferentes ciclos econômicos e crises, funcionando como uma espécie de âncora para o patrimônio. A característica fundamental de uma boa reserva de valor é sua capacidade de manter poder aquisitivo relativo no longo prazo, mesmo que apresente volatilidade no curto prazo.

Em um cenário ideal, a poupança funcionaria como uma verdadeira reserva de valor, permitindo que as pessoas guardassem o fruto de seu trabalho para uso futuro sem perda de poder aquisitivo. Entretanto, vivemos em um mundo onde a inflação é uma constante, corroendo sistematicamente o valor do dinheiro ao longo do tempo. Como resultado, os poupadores são forçados a se tornarem investidores, buscando alternativas que não apenas preservem, mas também façam seu capital crescer para compensar a desvalorização da moeda. Isso significa que, em vez de simplesmente guardar dinheiro, as pessoas precisam aprender sobre mercado financeiro, entender diferentes classes de ativos e assumir riscos que, em um sistema monetário mais sólido, não seriam necessários.

Atualmente, os títulos da dívida americana (especialmente os Treasury Bonds) são considerados a principal reserva de valor global, devido à força econômica e militar dos Estados Unidos e ao papel do dólar como moeda de reserva mundial e estima-se que cerca de US$300 trilhões estão investidos nestes títulos.

Os imóveis em localizações privilegiadas, conhecidos como imóveis troféus, também são tradicionalmente vistos como excelentes reservas de valor, pois tendem a preservar ou aumentar seu valor real ao longo do tempo, além de gerarem renda através de aluguéis. O valor do mercado imobiliário é de cerca de US$330 trilhões, sendo que uma parcela significativa deste valor é relacionado a investidores que não sabiam onde alocar seu capital e por isso resolveram comprar um segundo ou terceiro imóvel.

A arte tem servido historicamente como uma forma sofisticada de reserva de valor, especialmente para pessoas de alto patrimônio. Obras de artistas renomados não apenas mantêm seu valor ao longo do tempo, mas frequentemente se apreciam, oferecendo proteção contra inflação e instabilidade econômica. No entanto, este mercado apresenta desafios únicos, como a necessidade de expertise para avaliação, custos de armazenamento e segurança, além de baixa liquidez quando comparado a outros ativos. Atualmente estima-se que cerca de US$18 trilhões estão alocados em diversas obras de artes pelo mundo.

Em seguida, temos o ouro, que há milênios serve como reserva de valor e ainda mantém sua relevância, especialmente em momentos de incerteza econômica. Apesar do seu vasto histórico, o valor de mercado do ouro é significativamente menor do que o mercado imobiliário e de títulos de dívida soberanas e possui um patamar próximo ao do mercado da arte, com cerca de US$18 trilhões alocados.

A competição por capital é um jogo de soma zero

A alocação de capital em diferentes reservas de valor funciona como um jogo de soma zero, onde recursos direcionados para um ativo necessariamente deixam de ser alocados em outros. Quando investidores globais escolhem manter seu capital em ações das Mag7, por exemplo, esse mesmo capital não está sendo direcionado para ouro, Bitcoin ou títulos governamentais. Esta dinâmica cria uma competição constante entre diferentes classes de ativos pela preferência dos investidores como reserva de valor.

Entretanto, o investimento nas Mag 7 podem estar chegando a um ponto de inflexão crucial. Sinais recentes, como preocupações crescentes com regulação antitruste, questionamentos sobre múltiplos de avaliação elevados e potenciais limites ao crescimento futuro, começam a abalar a confiança dos investidores nestas empresas como reserva de valor de longo prazo. O grau de concentração do mercado acionário como um todo nessas ações, com números que lembram o da bolha das ponto.com acendem um sinal de alerta. Além disso, o surgimento de tecnologias disruptivas de IA desenvolvidas por competidores, como a DeepSeek na China, adiciona uma camada extra de incerteza sobre a capacidade destas empresas manterem sua dominância tecnológica.

À medida que esta confiança diminui, é natural que o capital busque alternativas mais tradicionais ou emergentes para preservação de valor. O ouro, uma reserva de valor histórica, e o Bitcoin, frequentemente chamado de “ouro digital”, podem se beneficiar deste movimento, recebendo fluxos de capital que anteriormente teriam sido direcionados para as Big Techs. Esta realocação não acontece de forma abrupta, mas através de um processo gradual de mudança nas percepções e preferências dos investidores globais sobre quais ativos oferecem a melhor combinação de segurança e potencial de valorização no longo prazo. Em outras palavras, não estamos descrevendo um processo de semanas e sim uma macrotendência de anos.

O lançamento do modelo R1 pela DeepSeek, uma startup chinesa de IA, representa um marco significativo na corrida tecnológica global, desafiando a hegemonia das empresas americanas de tecnologia. Esse avanço não só questiona a premissa de dominância dos EUA em inovação tecnológica, mas também abala a confiança dos investidores nas Mag7 como uma das principais reservas de valor do mercado global, que pode redefinir os fluxos de capital no longo prazo.

Nesse contexto, o Bitcoin e outras reservas de valor tradicionais, como o ouro, podem se beneficiar de uma realocação gradual de capital. O Bitcoin, em particular, com sua natureza descentralizada e resistência à inflação, emerge como uma alternativa atraente para investidores que buscam diversificar seus portfólios e proteger seu patrimônio em um cenário de incerteza tecnológica e geopolítica.

Fonte: Por que a DeepSeek é bullish para o Bitcoin?

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