Netflix, Prime Video e mais: como 2024 redesenhou o mercado de streaming
O ano de 2024 trouxe mudanças significativas para o mercado de plataformas de streaming, marcando um momento de transição e reconfiguração de estratégias. Entre os aumentos de preços, consolidações de serviços e experimentações com novos modelos de negócio, o setor enfrentou desafios à medida que buscava se adaptar a um público cada vez mais seletivo.
No Brasil e em outros mercados, o ano foi caracterizado pela fragmentação crescente, com consumidores lidando com múltiplas assinaturas e a dificuldade de justificar custos adicionais. Enquanto isso, plataformas como a Netflix, Prime Video e a Max, apresentada como uma nova plataforma que substituiu a HBO Max e o Discovery+, reformularam suas ofertas para enfrentar a pressão financeira e de mercado.
A consolidação no setor de streaming e suas consequências
Uma das principais mudanças em 2024 foi o avanço na integração de serviços. O lançamento da Max na América Latina e Caribe (seguindo o lançamento do serviço dos Estados Unidos em 2023), unificando os catálogos da HBO Max e do Discovery+, reflete a pressão por consolidar ofertas em um mercado saturado. Arthur Igreja destacou que essa unificação reduz a quantidade de opções disponíveis e aumenta os custos para os consumidores.
No Brasil, essa consolidação também foi percebida com a integração de catálogos em outras plataformas, como a Disney+, que começou a incluir o conteúdo do Hulu em sua oferta global, trazendo conteúdos diversificados e fortalecendo sua posição no mercado competitivo.
O movimento busca equilibrar custos crescentes de produção e manutenção das plataformas, mas também levanta preocupações sobre a diminuição de variedade no mercado. Para os consumidores, as consequências podem incluir aumentos nas tarifas e menos opções de escolha, forçando-os a repensar quais serviços valem a pena manter.
A fragmentação e os custos crescentes
Em meio à pressão inflacionária global, o setor de streaming também viu um aumento generalizado nos preços das assinaturas. No Brasil, plataformas como Netflix e Prime Video reajustaram seus preços, enquanto a Disney+ lançou novos planos premium para equilibrar custos.
As pessoas querem consumir entretenimento, mas o acesso financeiro está cada vez mais difícil. Essa realidade tem levado muitos consumidores a optarem por cancelar assinaturas e escolher apenas as plataformas que consideram essenciais. “As pessoas vão consumir cada vez menos streaming, optando por um ou outro, escolhendo seus favoritos. Já tem muita gente cancelando”, afirmou Amanda Brandão, criadora de conteúdo de cinema e TV.
A Netflix, por exemplo, deixou de oferecer o plano básico sem anúncios em diversos mercados, incluindo o Brasil. Em contrapartida, a empresa lançou planos mais baratos com anúncios. Essa mudança fez com que os assinantes que não querem a nova realidade dos anúncios migrassem para planos mais caros ou cancelassem suas assinaturas. Por outro lado, fortalece o plano com anúncios, tornando a Netflix mais atrativa para anunciantes.
Arthur Igreja reforçou a ideia ao dizer que os consumidores enfrentam um mercado fragmentado, onde precisam escolher entre múltiplas assinaturas. Isso reflete a saturação do setor e a dificuldade de justificar aumentos de preços para um público que já sente os custos inflacionados. Esse cenário também contribuiu para o aumento da pressão sobre as plataformas, que buscam se diferenciar em um mercado cada vez mais competitivo.
Planos com anúncios: uma solução paradoxal?
Outro destaque do ano foi a adoção crescente de planos com anúncios não apenas pela Netflix, marcando uma reviravolta no modelo de negócio das plataformas de streaming. O Prime Video, por exemplo, anunciou que incluirá intervalos comerciais em seus planos a partir de 2025, enquanto outras plataformas, como a Disney+, introduziram modelos similares para atrair consumidores mais sensíveis ao preço.
Arthur Igreja avaliou essa estratégia como paradoxal: “Os modelos de planos com anúncios são paradoxais. O streaming, que surgiu como alternativa à TV tradicional, agora adota práticas como comerciais e eventos ao vivo, criando uma nova dinâmica no consumo”. Esse movimento também busca diversificar as fontes de receita, mas pode alienar consumidores que adotaram o streaming justamente para evitar os intervalos comerciais.
No Brasil, esses modelos ainda estão em fase de adoção, mas já despertam críticas de consumidores, que veem os anúncios como um retrocesso à experiência televisiva convencional.
A liderança da Netflix no streaming e as tentativas de diversificação
Mesmo com as mudanças no mercado, a Netflix manteve sua posição de liderança em 2024. Arthur Igreja observou que, apesar das restrições ao compartilhamento de senhas, “o número de usuários aumentou”, mostrando que a estratégia deu resultado em termos de retenção e aumento de receita.
Arthur Igreja destacou a capacidade da plataforma de se reinventar, buscando explorar o mercado de games e experiências no mundo offline. “A Netflix está indo mais na direção de uma estratégia Disney. Muitos produtos licenciados, a conexão com marcas, isso já existe há mais tempo, porém, tem ficando cada vez mais explícito as marcas que aparecem dentro das produções.”
Além disso, a Netflix começou a explorar o mercado de transmissões esportivas ao vivo, uma tendência que se destaca no setor. A empresa realizou seus primeiros experimentos com eventos esportivos em 2024, como transmissões de torneios de tênis, e recentemente fez uma grande transmissão global de dois jogos da NFL. Essa estratégia busca atrair novos públicos e competir diretamente com plataformas como o Prime Video, que já têm uma presença consolidada nesse segmento.
Enquanto isso, outras plataformas enfrentaram desafios para se destacar. Arthur Igreja apontou que “a Apple enfrenta dificuldade em atrair audiências fora de seus nichos. A Amazon tem utilizado o Prime como um pacote completo, mas o streaming em si é apenas um ponto de contato”. Isso demonstra que, para muitas plataformas, o desafio vai além do conteúdo — trata-se de criar um ecossistema que justifique o custo da assinatura.
Eventos ao vivo e esportes: a nova aposta
Outra tendência em 2024 foi o foco em eventos ao vivo e esportes como uma forma de atrair novos consumidores e fidelizar os já existentes. Arthur Igreja destacou que “o foco em eventos ao vivo, como esportes, é uma grande aposta para fidelizar consumidores, especialmente porque esses eventos possuem pausas naturais para anúncios, algo mais palatável do que comerciais em séries ou filmes”.
No Brasil, o Prime Video se destacou com a ampliação de transmissões exclusivas de jogos da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro, fortalecendo sua presença no mercado esportivo. Essa estratégia busca reproduzir a experiência coletiva que muitas vezes está associada às transmissões esportivas e que ainda encontra poucos paralelos em outras formas de entretenimento. Para plataformas como o Prime Video, que já investe em transmissões exclusivas, essa é uma oportunidade de se diferenciar ainda mais.
A entrada da Netflix nesse segmento citada acima reforça essa tendência, apontando para um futuro onde eventos esportivos serão um diferencial estratégico nas disputas entre as plataformas.
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O futuro dos streamings em um mercado saturado
Olhando para 2025 e além, o mercado de streaming parece caminhar para uma consolidação maior, com menos plataformas disputando a atenção dos consumidores. Amanda Brandão resumiu a situação ao dizer que “esse modelo de negócio já nasceu meio datado”, refletindo a insatisfação de muitos consumidores com a fragmentação e os custos crescentes.
Para Arthur Igreja, o conteúdo exclusivo e original e a melhoria da experiência do usuário são fundamentis. “Os dois pontos são fundamentais. Hoje está mais focado no conteúdo original, em exclusividade, uma barreira também que acredito que já foi em grande medida rompida”. Além disso, a diversificação de fontes de receita e o foco em experiências imersivas e coletivas podem ajudar a redefinir o futuro do setor.
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