Luz do sol moldou nossa evolução e pode ter gerado cabelos cacheados
Por toda a história evolutiva, os seres humanos e suas atividades estiveram ligados à luz do dia. Mesmo que, atualmente, a tecnologia tenha dispensado do ciclo de sono e vigília impostos pela natureza, ainda sentimos os efeitos da luz do sol em nossa biologia — e eles continuam nos influenciando até hoje.
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Como espécie, ainda dormimos durante a noite e estamos ativos durante o dia, e a luz natural pode até mesmo ter sido responsável por andarmos eretos — além disso, ela ajuda a explicar a evolução das cores de pele, dos cabelos cacheados e até do tamanho dos olhos. E não para por aí: ainda há relação com sistema imune, intestinos e muito mais.
Luz solar e a história humana
Segundo o consenso científico, o ser humano evoluiu no clima quente da África antes de se deslocar pelo mundo. Reduzir a exposição ao sol pode ter sido uma das causas que favoreceram o bipedalismo — de pé, o Sol escaldante do meio dia fica diretamente acima de nossas cabeças, então menos luz atinge o corpo.
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A luz do Sol e sua influência na evolução humana são grandes — para nos proteger dos raios UV mas ainda aproveitarmos seus benefícios, como a vitamina D, tivemos de nos adaptar bastante (Imagem: Lifeforstock/Freepik)
A mesma razão pode explicar os cabelos cacheados: eles conferem uma camada mais densa de isolamento do que os cabelos lisos. Os primeiros Homo sapiens tinham um tom de pele mais pigmentado, protegendo do Sol.
Os raios solares quebram o folato (vitamina B9), acelerando o envelhecimento e danificando o DNA. A pele escura protege disso, mas ainda permite a entrada de luz ultravioleta o suficiente para a produção de vitamina D.
Quando colonizamos locais mais temperados, com menos luz, alguns de nossos ancestrais desenvolveram pele mais clara, através de diferentes genes. Isso foi rápido, provavelmente ocorrendo nos últimos 40.000 anos.
Com menos radiação UV perto dos polos, era preciso menos pigmentação para proteger a pele e o folato da luz, e também seria preciso mais luz para produzir a vitamina D.
Nossos ancestrais, como este Homo heidelbergensis, tinham pele mais escura para se proteger do Sol nas escaldantes planícies africanas — a pele clara só surgiu com migrações para o norte (Imagem: Ryan Somma/Flickr/CC-BY-2.0)
Isso pode ser um problema para pessoas de pele clara que migraram no mundo moderno: na Austrália, onde mais de 50% da população é de ascendência anglo-celta e o ambiente é cheio de raios UV, o local é conhecido como “país dos queimados de sol”.
Variações nos olhos também podem ser explicadas pelo Sol: humanos de latitudes mais altas possuem menos pigmentos protetores nas íris e maiores cavidades oculares, provavelmente para receber mais luz solar. Na Austrália, descendentes de europeus possuem taxas altas de câncer nos olhos, pela mesma razão das queimaduras de pele.
O ritmo circadiano — ou relógio biológico — também foi desenvolvido para lidar com a presença e ausência de luz. Durante o dia, com a claridade, vemos bem e com cores refinadas, mas, à noite, enxergamos muito mal, e não possuímos audição ou olfato acurados o suficiente para compensar. Primatas modernos mais próximos de nós sofrem do mesmo mal, indicando que essa adaptação é bem antiga.
Os primeiros mamíferos do mundo, no entanto, eram noturnos, usando o corpo pequeno para fugir dos dinossauros na escuridão. Foi só com a extinção dos grandes répteis graças ao asteroide que prosperamos.
O ciclo circadiano desenvolvido para lidar com dia e noite na biologia humana segue obedecendo aos horários naturais da luz do Sol — e provavelmente continuará assim por algum tempo (Imagem: Miikka Luotio/Unsplash)
Como nossa performance física e cognitiva é muito prejudicada, atualmente, quando perturbamos demais o ciclo circadiano com privação de sono, por exemplo, isso não mudará, mesmo com a ajuda de luz artificial.
Mas a ajuda das velas, lâmpadas e luzes de LED cobra seu preço. A maioria dos genes associados à miopia se tornaram mais comuns num espaço de apenas 25 anos, um exemplo de mudança evolutiva na carga genética humana.
A predisposição genética à doença, junto com pouca exposição à luz natural, faz com que a doença fique mais comum. A luz solar continua a moldar nossos genes — e provavelmente continuará por milênios.
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