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Julgamento da Meta: Zuckerberg queria “neutralizar” rivais com o Instagram

O julgamento antitruste contra a Meta avançou nesta semana com novos documentos e declarações que lançam luz sobre a estratégia da empresa em relação a seus principais aplicativos. Durante seu segundo dia de depoimento no tribunal federal em Washington, D.C., o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, foi confrontado com e-mails internos e pressionado a explicar motivações anteriores para a compra do Instagram, em 2012.

Segundo o Wall Street Journal, um dos documentos apresentados no julgamento mostra Zuckerberg cogitando, em 2018, separar o Instagram como uma empresa independente diante da possibilidade crescente de ações regulatórias.

“Estou começando a me perguntar se desmembrar o Instagram não seria a única estrutura capaz de alcançar uma série de objetivos importantes”, escreveu. Ele também afirmou que havia uma “chance não trivial” de que, nos próximos cinco a dez anos, a empresa — na época chamada de Facebook — fosse forçada a separar tanto o Instagram quanto o WhatsApp.

Celular com logomarca da Meta na tela na frente de monitor com foto de Mark Zuckerberg com cara franzida
Mark Zuckerberg foi interrogado no segundo dia de depoimento em ação antitruste contra a Meta (Imagem: Muhammad Alimaki/Shutterstock)

Zuckerberg foi pressionado a admitir intenção de “neutralizar” concorrência

O Washington Post relatou que o advogado da FTC (Comissão Federal de Comércio), Daniel Matheson, pressionou Zuckerberg sobre mensagens internas de 2012 em que o executivo discute o valor de adquirir aplicativos móveis como o Instagram e o Path. Em uma dessas trocas, ele afirma considerar o quanto a empresa deveria estar disposta a pagar por aplicativos que estavam “construindo redes que competem com a nossa”.

“[O que] tenho pensado recentemente é quanto deveríamos estar dispostos a pagar para adquirir empresas de aplicativos móveis como Instagram e Path, que estão construindo redes que competem com as nossas”, escreveu Zuckerberg em 2012, em e-mail para David Ebersman, então diretor financeiro da empresa. Quando questionado por Ebersman se ele queria “neutralizar um potencial concorrente”, Zuckerberg respondeu afirmativamente.

Ainda segundo o Washington Post, Matheson destacou que em nenhuma das mensagens Zuckerberg mencionava “melhorar o Instagram” como motivação para a aquisição, e sim o fato de a plataforma representar uma ameaça crescente.

Confrontado com essas declarações, Zuckerberg respondeu: “Não tenho certeza da bagunça completa do que escrevi”.

Instagram tinha tecnologia superior à do Facebook, diz CEO

Em outro trecho do julgamento, relatado pela CNBC, Zuckerberg afirmou que o Facebook avaliava se deveria construir ou comprar um aplicativo de câmera próprio. Ele reconheceu que o Instagram era superior tecnicamente: “Estávamos fazendo uma análise de construir versus comprar. Achei que o Instagram era melhor nisso, então pensei que era melhor comprá-los.”

Essa declaração reforça a acusação da FTC de que a Meta adotou uma estratégia de “comprar ou enterrar” potenciais concorrentes para manter uma posição dominante no mercado de redes sociais. A Reuters também citou um e-mail antigo, de 2008, no qual Zuckerberg teria dito que “é melhor comprar do que competir”.

Dificuldades recorrentes em desenvolver novos apps

Zuckerberg também admitiu, segundo a Reuters, que a Meta falhou repetidamente ao tentar desenvolver novos aplicativos por conta própria. “Construir um novo aplicativo é difícil e, na maioria das vezes, quando tentamos, ele não teve muita tração”, disse no tribunal. Ele acrescentou que a empresa tentou lançar dezenas de apps ao longo dos anos, mas que “a maioria não foi para frente”.

A FTC argumenta que esse histórico reforça o motivo pelo qual a empresa passou a adquirir rivais em vez de investir em soluções próprias.

Meta contesta definição de mercado usada pela FTC

A Meta, por sua vez, contesta o processo sob o argumento de que o mercado de redes sociais foi definido de forma equivocada pela FTC. A empresa argumenta que enfrenta forte concorrência de plataformas como TikTok (ByteDance), YouTube (Alphabet) e iMessage (Apple), que não foram incluídas na definição de mercado da agência.

Logo do TikTok em um smartphone que está em cima de um notebook
Meta argumenta que enfrenta forte concorrência de plataformas como o TikTok (Imagem: miss.cabul/Shutterstock)

Outro ponto levantado pela FTC é que, mesmo com acesso gratuito às plataformas, os usuários são prejudicados pelo aumento de anúncios — consequência, segundo a agência, da falta de competição. Zuckerberg respondeu, de acordo com a Reuters, que o aumento de publicidade não necessariamente reduz a qualidade do serviço.

“Nosso sistema é projetado para mostrar mais anúncios para pessoas que gostam de ver conteúdo publicitário”, afirmou. Ele acrescentou que a empresa chegou a considerar criar um feed totalmente composto por anúncios, embora a ideia não tenha sido implementada.

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Meta pode ser obrigada a vender Instagram e WhatsApp

A FTC entrou com o processo em 2020, ainda durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump, e defende que a Meta desfaça as aquisições do Instagram e do WhatsApp, sob a alegação de que ambas foram feitas para sufocar a concorrência. Como destacou a The Verge, se a FTC vencer o caso, a empresa pode ser obrigada a se desfazer dessas plataformas, que hoje são centrais na receita de publicidade da companhia.

Segundo dados da consultoria eMarketer mencionados pelo Washington Post, o Instagram deve representar mais da metade da receita da Meta no mercado norte-americano em 2025.

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