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Fui à China e me senti no futuro: por que estamos tão atrasados?

Recentemente, tive a oportunidade de visitar a China e passei seis dias explorando a cidade de Shenzhen e mais um dia em Dongguan. A experiência foi, no mínimo, transformadora — e voltei com a sensação de que estamos pelo menos 20 anos atrás em termos de tecnologia, inovação e organização social.

Se você ainda tem aquela imagem de que a China só fabrica produtos baratos e de qualidade duvidosa, é hora de atualizar esse pensamento. O país está na linha de frente da inovação tecnológica, com uma visão de futuro que impressiona em todos os detalhes.

Shenzhen: de vila de pescadores a metrópole futurista

Há apenas quatro décadas, Shenzhen era uma vila de pescadores com menos de 30 mil habitantes. Hoje, é uma das cidades mais modernas do mundo, com cerca de 17 milhões de pessoas, arranha-céus ultramodernos e infraestrutura de ponta. A transformação foi resultado de um plano estratégico do governo chinês, que declarou a cidade como uma “zona econômica especial” nos anos 80, atraindo investimentos nacionais e internacionais.

A cidade me chamou atenção pela sua mobilidade urbana inteligente. A maioria dos táxis é elétrica — identificados facilmente pelas placas verdes — e as ruas estão repletas de carros de marcas como Mercedes, Tesla, BYD e até Xiaomi. Há pontos de recarga por toda a cidade, incentivando o uso de veículos sustentáveis. É quase como se o carro a combustão fosse peça de museu.

Além disso, Shenzhen abriga as sedes de gigantes da tecnologia como Tencent, Huawei, BYD e Foxconn. É um verdadeiro ecossistema de inovação, onde startups e grandes empresas convivem lado a lado, impulsionando pesquisa, desenvolvimento e produção em larga escala.

ShenZhen Ping An Finance Center (quarto mais alto do mundo)
ShenZhen Ping An Finance Center (quarto mais alto do mundo)
Vista do último andar do ShenZhen Ping An Finance Center (quarto mais alto do mundo)

Segurança e tecnologia integradas

Um detalhe que me chamou a atenção: durante todos os dias que estive lá, não vi policiais nas ruas. Curioso, perguntei a um morador local, que explicou que a cidade é vigiada por um sistema avançado de câmeras com reconhecimento facial. Em caso de qualquer anormalidade, a polícia é acionada e chega rapidamente ao local. Um verdadeiro exemplo de segurança integrada com tecnologia — algo que por aqui ainda parece distante.

Educação como base de tudo

Mas afinal, como a China conseguiu esse salto impressionante em tão pouco tempo? A resposta pode ser resumida em uma palavra: educação.

O governo chinês investiu pesadamente na educação de base e superior, com foco em áreas estratégicas como engenharia, ciência e tecnologia. Hoje, mais de 10 milhões de pessoas se formam em universidades por ano. E não se trata apenas de quantidade — mas de qualidade: as universidades chinesas estão entre as melhores do mundo em diversas áreas.

Além disso, há um forte envolvimento da comunidade com a educação. Um exemplo que me marcou: ao passar por uma escola, vi duas pessoas com coletes organizando o trânsito. Achei que fossem funcionários públicos, mas eram pais de alunos. Por lá, é comum que os pais se revezem, dedicando duas horas por mês para ajudar a escola em tarefas como essa. Um senso de colaboração que, sinceramente, me fez pensar se algo assim funcionaria no Brasil.

Planejamento a longo prazo

Diferente do que vemos em muitos países ocidentais, onde os planos de governo mudam a cada eleição, a China trabalha com metas de longo prazo, muitas vezes com horizontes de 20 a 50 anos. Existe um planejamento urbano, tecnológico e social que é seguido com disciplina. A construção de infraestrutura — como trens de alta velocidade, redes 5G, cidades inteligentes e centros de inovação — é feita em ritmo acelerado, com foco em resultados duradouros.

Uma lição de futuro

Visitar a China foi como visitar o futuro. Voltei com muitas reflexões: sobre nossa forma de pensar desenvolvimento, sobre como tratamos a educação, e até sobre como nos envolvemos com nossa comunidade.

Claro, a China tem seus desafios — como qualquer país — mas a velocidade e seriedade com que avançam são um lembrete de que não basta apenas “esperar o progresso”: é preciso planejar, investir e envolver todos no processo.

*Eduardo Nuves viajou a convite da Huawei

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