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Esse povo mostra que o ser humano continua evoluindo

Milhares de anos após o surgimento das primeiras civilizações humanas, continuamos a evoluir. Nem todos os ambientes do mundo são propícios para a vida humana, mas, curiosamente, seguimos nos adaptando ao longo de gerações.

Um exemplo notável disso está ocorrendo no Planalto Tibetano. Ali, onde o oxigênio é escasso, os corpos dos habitantes desenvolveram adaptações que lhes permitem prosperar em um local onde muitos outros enfrentariam dificuldades respiratórias.

Em um estudo recente da Case Western Reserve University, pesquisadores analisaram modificações no organismo de 417 mulheres, entre 46 e 86 anos, que vivem no Nepal, avaliando a porcentagem de nascidos vivos neste grupo.

Os detalhes do estudo, que mostram como essas mulheres estão desenvolvendo características únicas de sobrevivência, foram publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Por que analisar o organismo das mulheres?

Para entender como o corpo humano está evoluindo, os pesquisadores avaliam uma série de fatores que compõem o que a ciência chama de aptidão evolutiva. Um dos mais importantes é o sucesso reprodutivo, ou seja, a capacidade de transmitir traços e características para as próximas gerações.

As características de sobrevivência são mais prováveis de serem encontradas em mulheres que enfrentam o estresse da gravidez em um ambiente desfavorável e conseguem dar à luz bebês vivos. Esses filhos provavelmente herdam os traços que aumentam suas chances de sobrevivência e, posteriormente, também os transmitirão, garantindo a continuidade e adaptação das futuras populações.

Número de gestações e nascimentos vivos entre a amostra populacional estudada. – Imagem: PNAS

Nepalesas desenvolvem traços que melhoram o transporte de oxigênio no sangue

A hemoglobina é uma proteína presente nos glóbulos vermelhos, responsável por transportar oxigênio aos tecidos.

No novo estudo, os pesquisadores analisaram os níveis de hemoglobina e a quantidade de oxigênio transportada pelas participantes.

As mulheres que tiveram uma maior taxa de nascidos vivos apresentaram níveis médios de hemoglobina – nem muito baixos, nem muito altos. No entanto, a saturação de oxigênio da hemoglobina era elevada.

Esse conjunto de resultados indica que as nepalesas estão evoluindo de maneira que otimiza o fornecimento de oxigênio para as células e tecidos, sem que o sangue fique mais espesso.

O grupo com maior sucesso reprodutivo também apresentou uma maior taxa de fluxo sanguíneo para os pulmões.

Além disso, essas mulheres tinham ventrículos esquerdos – as câmaras que bombeiam o sangue oxigenado do coração – mais largos do que a média.

Em resumo, as nepalesas com os melhores traços de sobrevivência estão tendo maior sucesso reprodutivo e repassando essas características.

A cultura também tem um papel na sobrevivência

Não são apenas os traços físicos que influenciam as chances de as nepalesas transmitirem suas características de sobrevivência; fatores culturais também desempenham um papel. Segundo o estudo, mulheres que começam a se reproduzir jovens e têm casamentos longos parecem ter uma maior exposição à possibilidade de gravidez, o que também aumenta o número de nascidos vivos.

Aldeia Saldang, uma das mais populosas da região culturalmente tibetana de Dolpo. Imagem: Shutterstock/Storm Is Me.”

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Independentemente disso, os fatores físicos claramente desempenham um papel crucial nas chances de reprodução e sobrevivência das nepalesas. Mulheres cujos corpos funcionam de maneira mais eficiente em ambientes de baixa altitude tendem a ter maior sucesso reprodutivo. Ou seja, essas mulheres possuem adaptações físicas que as tornam mais eficientes na reprodução, mesmo diante do desafio da baixa concentração de oxigênio.

Entendendo a evolução humana

Estamos tendo a chance de ver a evolução humana ocorrer em tempo real no Planalto Tibetano. Isso é uma oportunidade única para entender mais sobre o processo evolutivo da nossa espécie.

Este é um caso de seleção natural contínua. Compreender como populações como essas se adaptam nos proporciona uma visão mais aprofundada dos processos de evolução humana

Cynthia Beall, autora da pesquisa, em comunicado.

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