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Esquecer faz parte da nossa evolução e traz benefícios

Quem nunca esqueceu a carteira antes de sair de casa, não se lembrou onde estacionou o carro ou não conseguia se recordar do nome de determinada pessoa? Para muita gente, essas três situações podem ser bastante comuns e não  envolvem uma doença neurodegenerativa, como o Alzheimer. Por mais estranho que pareça, esquecer de forma “controlada” tem benefícios, além de ser parte da nossa evolução.

Clique e siga o Canaltech no WhatsApp O que a ciência diz sobre o impacto de uma casa bagunçada na saúde Suas primeiras memórias de vida ainda estão em algum lugar do seu cérebro?

Para a dupla de pesquisadores do departamento de neurociência da Trinity College Dublin (Irlanda), Elva Arulchelvan e Sven Vanneste, esquecer é algo funcional e importante para a saúde. “O esquecimento tem suas vantagens evolutivas“, afirmam em artigo recém-publicado na plataforma The Conversation.

“Nossos cérebros são bombardeados com informações constantemente. Se nos lembrássemos de cada detalhe, seria cada vez mais difícil reter as informações [verdadeiramente] importantes”, pontuam. Então, o esquecimento de coisas pequenas (como o lugar em que deixou o fone de ouvido) pode ser visto como um modo de garantir espaço e memória para o que faz diferença na sua vida. Sem abrir mão disso, nunca poderíamos fixar as memórias.


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Esquecer é evoluir 

Quando se analisa a questão evolutiva, os pesquisadores irlandeses explicam que “o esquecimento de memórias antigas em resposta a novas informações é, sem dúvida, benéfico“. Para entender isso, podemos voltar à época em que os humanos antigos ainda eram nômades. 

Esquecer alguma coisa costuma ser inconveniente, mas o esquecimento é parte da evolução e tem benefícios para o cérebro (Imagem: Vecstock/Freepik)

“Nossos ancestrais caçadores-coletores podem ter visitado repetidamente um poço de água seguro para, um dia, descobrir um assentamento rival ou um urso com filhotes recém-nascidos [e mais perigosos que o normal] no local. Seus cérebros tinham que ser capazes de atualizar a memória para rotular esse local como não mais seguro. Não fazer isso seria uma ameaça à sobrevivência“, ilustra a dupla de neurocientistas.

Para traçar um paralelo atual deste exemplo, cabe pensar no trajeto que você faz todos os dias da sua casa até algum ponto específico, como a faculdade ou o trabalho. Se há uma mudança de trânsito, como alteração do sentido de uma faixa ou uma nova pista mais rápida, o cérebro precisa esquecer o percurso antigo e aprender o novo, o que deve melhor a sua rotina.  

Além de impedir que nosso HD seja sobrecarregado com conteúdos antigos demais ou desatualizados, existem outros benefícios práticos, especialmente após episódios traumáticos. Quando alguém não consegue esquecer uma memória traumatizante e desenvolve o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), é como se ela repetidamente revivesse esse trauma, o que bloqueia a sua vida. Existem inúmeros complicações no campo da saúde mental, e essa condição debilitante precisa ser tratada com apoio psicológico.

Formas de esquecimento

O esquecimento pode ter diferentes finalidades, incluindo o aprendizado, e o esquecer normalmente se dá a partir de uma dos quatro seguintes situações:

Não estávamos prestando atenção no momento em que uma nova informação era aprendida ou que algo acontecia, como o local em que deixamos o celular;  A informação perdeu o usabilidade e não temos mais a necessidade de acessar a memória, que será então perdida; A informação ainda não foi perdida, mas está temporariamente inacessível, como se estivesse na “ponta da língua”. Se fizermos a associação correta, ainda é possível resgatá-la; Esquecemos uma memória para atualizar o cérebro como uma nova informação, ainda mais relevante.

“Todas essas formas de esquecimento ajudam nosso cérebro a funcionar eficientemente e contribuem para a nossa sobrevivência por muitas gerações”, avisam os pesquisadores.

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