E o Oscar da Ciência vai para… uma revolução na Medicina!
Dois cientistas que dedicaram décadas à pesquisa sobre esclerose múltipla (EM) foram reconhecidos com o Breakthrough Prize, considerado o “Oscar da ciência“. O neurologista americano Stephen Hauser e o epidemiologista italiano Alberto Ascherio foram premiados por descobertas que abriram novos caminhos no tratamento da doença neurológica, que afeta cerca de três milhões de pessoas no mundo.
A esclerose múltipla, considerada durante muito tempo um enigma impenetrável pela medicina, é uma doença neurodegenerativa debilitante que compromete o sistema nervoso central. Os sintomas incluem prejuízos motores e cognitivos, podendo levar à paralisia. O reconhecimento da comunidade científica veio após avanços significativos obtidos pelos dois pesquisadores ao longo de suas carreiras.

Um encontro marcante e o início de uma jornada
Hauser iniciou seus estudos sobre esclerose múltipla há mais de 45 anos, depois de conhecer uma jovem paciente chamada Andrea, que trabalhava na Casa Branca durante o governo de Jimmy Carter. Aos 27 anos, ele presenciou a rápida deterioração da saúde de Andrea, que em pouco tempo perdeu a capacidade de falar, engolir e até respirar sozinha.
“Foi a coisa mais injusta que já vi na medicina”, relatou o pesquisador à AFP. A experiência o levou a transformar a esclerose múltipla em missão de vida, mesmo em um cenário de ceticismo generalizado. “Na época, não havia tratamentos. E nem se acreditava que algum dia pudessem ser desenvolvidos”, afirmou.
A descoberta do papel dos linfócitos B
- Durante muito tempo, acreditava-se que apenas os linfócitos T estavam envolvidos na destruição das células nervosas.
- Hauser questionou essa visão e passou a investigar o papel dos linfócitos B, outro tipo de célula branca do sangue, no desenvolvimento da doença.
- Por meio de testes em saguis, pequenos primatas, ele e sua equipe conseguiram replicar os danos neurológicos provocados pela EM.
- O projeto, inicialmente rejeitado por autoridades de pesquisa médica dos Estados Unidos por ser considerado “biologicamente implausível”, encontrou apoio na farmacêutica Genentech.
- Em 2006, os testes clínicos mostraram resultados expressivos: os tratamentos que miravam os linfócitos B reduziram em mais de 90% a inflamação cerebral em pacientes com esclerose múltipla.
- O achado foi descrito por Hauser como algo “nunca antes visto” em termos de impacto terapêutico.
Um possível elo viral com a esclerose múltipla
Enquanto Hauser avançava na busca por tratamentos, Alberto Ascherio concentrava-se em entender as causas da doença. Professor da Universidade de Harvard, ele se intrigava com a distribuição geográfica da EM, mais comum em regiões do hemisfério norte e rara em áreas tropicais.
Essa observação levou à hipótese de que um vírus poderia estar envolvido. Ascherio e sua equipe realizaram um estudo de longo prazo com milhões de recrutas militares dos EUA, ao longo de quase 20 anos. Em 2022, confirmaram a associação entre a esclerose múltipla e o vírus Epstein-Barr (EBV), agente causador da mononucleose infecciosa.

“Quase todos os pacientes com esclerose múltipla tiveram infecção prévia por EBV”, disse Ascherio. Apesar disso, ele enfatiza que nem todos os infectados desenvolverão a doença. A descoberta não é conclusiva sobre as causas, mas abre caminho para futuras estratégias de prevenção e tratamento.
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Novas possibilidades para outras doenças
A descoberta do vínculo com o vírus Epstein-Barr também levanta hipóteses para outras condições neurológicas. “Estamos investigando o papel de infecções virais em outras doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e a esclerose lateral amiotrófica (ELA)”, revelou Ascherio.
Embora o elo ainda seja teórico, o pesquisador acredita que o cenário atual se assemelha ao que era o conhecimento sobre EM há 20 ou 30 anos. A premiação no Breakthrough Prize reconhece não apenas conquistas passadas, mas também o potencial futuro das pesquisas lideradas por Hauser e Ascherio.
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