De volta às telas? O que 2024 revelou sobre o futuro do cinema
Após um período turbulento para o cinema, marcado pela pandemia e pelas históricas greves de roteiristas e atores em 2023, o ano de 2024 surgiu como um momento crucial para a indústria cinematográfica. No entanto, ainda que o mercado global de bilheterias tenha apresentado sinais de melhora — atingindo projeções levemente acima do esperado —, o setor continua enfrentando desafios significativos.
A retomada de produções, os atrasos no calendário de lançamentos e a concorrência crescente com plataformas de streaming são alguns dos fatores que moldam este cenário complexo.
Apesar da recuperação parcial, o setor está abaixo da média dos anos pré-pandemia. Neste contexto, 2024 foi um ano de transição, em que o cinema tentou redefinir seu papel na experiência do consumidor e recuperar a confiança do público.
A recuperação do setor e as marcas das greves
O ano de 2024 trouxe grandes desafios para a indústria cinematográfica, especialmente no que diz respeito às consequências das greves de roteiristas e atores de Hollywood em 2023. Essas greves tiveram efeitos profundos no calendário de lançamentos e nas produções, marcando o setor de forma significativa.
Impactos das greves em Hollywood
Amanda Brandão, criadora de conteúdo de cinema e TV, afirmou que a greve deixou muitas produções para depois, o que foi perceptível tanto no atraso de séries aguardadas quanto de filmes. “A greve acabou deixando muita coisa para depois. Era um movimento muito necessário na indústria, mas o impacto foi nítido este ano. Séries que esperávamos muito demoraram para sair, como [a segunda temporada de] The Last of Us, que era para este ano, mas foi adiada para o ano que vem. Até filmes foram adiados por conta disso.”
Ela também destacou como o impacto se refletiu em premiações: “O impacto ficou evidente, até no Emmy, por exemplo. O Emmy foi muito fraco; não havia uma série impactante ou algo que chamasse a atenção do público.”
De fato, a paralisação desacelerou produções e atrasou lançamentos aguardados. Segundo a Gower Street, esse ritmo mais lento contribuiu para o primeiro declínio ano a ano nas bilheterias desde a pandemia.
Contudo, é importante observar que o declínio nas bilheterias globais de 2024 não foi uniforme. Enquanto os mercados internacionais mostraram crescimento, o mercado doméstico (EUA/Canadá) foi o principal responsável pela retração, refletindo a competição acirrada com as plataformas de streaming e os custos crescentes para o consumidor final.
A retomada do calendário de lançamentos
Apesar dos contratempos, 2024 também marca a retomada de importantes produções. A inclusão de novos títulos no calendário de lançamentos ajudou a melhorar as projeções de bilheteria. Com o aumento de custos e fragmentação dos streamings, os consumidores buscam alternativas que ofereçam valor diferenciado, e o cinema pode capturar esse público com uma proposta única de experiência.
Para os distribuidores, esse movimento é vital. Além de impulsionar a bilheteria, ele também ajuda a atrair públicos que estão desacostumados com a experiência cinematográfica após anos de predominância do streaming.
Mercados globais: um panorama diversificado
Enquanto o mercado doméstico enfrentava desafios, os mercados internacionais se destacaram como pilares da recuperação do setor cinematográfico em 2024. Essas regiões contribuíram significativamente para impulsionar as bilheterias globais, trazendo novos aprendizados e estratégias para a indústria.
O papel dos mercados internacionais
Os mercados internacionais têm sido fundamentais para a recuperação das bilheterias em 2024. Excluindo a China (falo sobre ela abaixo), esses mercados representaram a maior parte dos ganhos, com uma previsão de US$ 16,75 bilhões, US$ 550 milhões acima das estimativas iniciais. Isso reflete o apetite renovado pelo cinema em países que conseguiram controlar os efeitos da pandemia de forma mais eficiente.
A importância da China no cenário global
A China, por sua vez, é o único grande mercado a apresentar crescimento em relação a 2023, com uma projeção de US$ 7,9 bilhões. As plataformas de streaming estão apostando em eventos ao vivo e esportes, que podem atrair o público acostumado a experiências coletivas, mas isso também abre espaço para o cinema reforçar o apelo emocional e comunitário das salas.
Esses números reforçam a necessidade de as distribuidoras diversificarem suas estratégias, equilibrando produções globais e conteúdos regionais para capturar públicos em diferentes mercados.
A experiência do cinema em um mundo dominado pelo streaming
Com a ascensão das plataformas de streaming, o cinema precisou se reinventar para manter sua relevância. A experiência de assistir a filmes na tela grande tornou-se um diferencial que precisa ser explorado para atrair o público novamente às salas.
O desafio de trazer o público de volta
Amanda Brandão destacou a importância de tornar o cinema mais acessível: “O cinema está cada vez mais elitizado, mas as salas já perceberam isso. Este ano, tivemos iniciativas como a Semana do Cinema, com muitas promoções para incentivar o público. Quando há essas promoções, as salas lotam.”
Eventos promocionais são um passo importante para recuperar o público. Contudo, a solução para revitalizar as bilheterias também passa por oferecer experiências que não podem ser replicadas em casa, como salas de alta tecnologia e imersão audiovisual.
A Netflix e outras plataformas estão diversificando suas receitas, apostando em eventos offline como pop-up stores e parques temáticos baseados em suas produções, uma estratégia que começa a se aproximar da experiência imersiva que o cinema oferece.
Ao mesmo tempo, plataformas como Netflix estão diversificando suas receitas e apostando em eventos offline, como pop-up stores e parques temáticos baseados em suas produções. Essas iniciativas mostram que o streaming não apenas compete, mas também busca complementar a experiência cinematográfica, criando novas possibilidades para o público e para o setor.
Cinema e streaming: concorrentes ou complementares?
Enquanto o streaming fragmenta a oferta de conteúdo, o cinema pode se posicionar como um refúgio para experiências únicas. Essa complementaridade é essencial para o equilíbrio do setor.
A aposta em eventos ao vivo e estreias exclusivas são exemplos de como o cinema pode coexistir com o streaming, oferecendo algo que as plataformas ainda não conseguem substituir completamente.
Sequências e propriedades intelectuais dominam 2024
O Ano de 2024 foi amplamente dominado por sequências e franquias, que ocuparam nove das dez posições no ranking de maiores bilheterias globais. Títulos como Divertida Mente 2, Deadpool & Wolverine e Meu Malvado Favorito 4 atraíram multidões, enquanto o único filme não relacionado a uma franquia, Wicked, ainda se beneficiava de sua forte conexão com o musical da Broadway e O Mágico de Oz.
Amanda Brandão observou a força das sequências em 2024, mas também destacou que novas propriedades intelectuais mostraram força. “Foi um ano forte também para produções novas, com roteiros e ideias inéditas. Um exemplo é A Substância, que foi o maior sucesso. Não era uma grande aposta para este ano, mas acabou sendo um dos principais filmes do ano.”
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Top 10 maiores bilheterias de 2024
Divertida Mente 2 – US$ 1,69 bilhão
Deadpool & Wolverine – US$ 1,33 bilhão
Meu Malvado Favorito 4 – US$ 969 milhões
Wicked: Part One – US$ 525 milhões
Godzilla x Kong: O Novo Império – US$ 571 milhões
Duna: Parte Dois – US$ 714 milhões
Beetlejuice Beetlejuice – US$ 451 milhões
Kung Fu Panda 4 – US$ 547 milhões
Twisters – US$ 370 milhões
A Substância – US$ 350 milhões
Estúdios como Disney, Universal e Warner Bros. foram responsáveis pela maior parte dos sucessos. A Disney, por exemplo, liderou com bilheterias globais impressionantes, incluindo US$ 1,69 bilhão para Divertida Mente 2 e US$ 1,33 bilhão para Deadpool & Wolverine. Já a Universal garantiu seu lugar com Meu Malvado Favorito 4 (US$ 969 milhões) e o sucesso de Wicked (US$ 525 milhões até agora).
Embora as bilheterias globais tenham superado as projeções iniciais — que já eram conservadoras devido às dificuldades enfrentadas em 2023 —, o setor ainda está aquém dos níveis pré-pandemia e apresentou uma queda de 4,8% em relação ao ano anterior.
Apesar desse domínio, a indústria como um todo enfrentou uma queda de 4,8% nas bilheterias em comparação a 2023, segundo dados da Comscore, e um declínio ainda maior de 23% em relação aos níveis pré-pandemia de 2019. Essa dependência de propriedades intelectuais consolidadas destaca tanto a força das grandes marcas quanto os desafios enfrentados por produções originais para encontrar espaço nas telas.
O futuro do cinema: rumo a 2025
A expectativa para 2025 é de recuperação e crescimento, com a chegada de produções adiadas e novos projetos que prometem movimentar o setor. Este período de transição representa uma oportunidade crucial para redefinir as estratégias da indústria cinematográfica.
Expectativas para o próximo ano
Com produções importantes adiadas para 2025, as expectativas para o futuro são altas. O desafio será manter o público engajado durante este período de transição.
Amanda Brandão conclui: “Minha expectativa é que as pessoas voltem a ir ao cinema e reaprendam essa experiência. É algo muito diferente e insubstituível.”
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