Como é feita a doação de medula óssea?
O transplante de células-tronco hematopoéticas, popularmente conhecido como transplante de medula óssea, salva milhares de vidas de pessoas que enfrentam alguns tipos de câncer, como leucemia e linfoma, e outras doenças graves do sangue e do sistema imunológico. Na raiz de todo o processo, estão os doadores, que topam fazer a doação de medula óssea, de forma solidária.
Clique e siga o Canaltech no WhatsApp Vai doar sangue? Aqui tem tudo o que você precisa saber! O que acontece com o corpo de um doador de órgãos?
Para entender, as células-tronco hematopoéticas são responsáveis por produzir todos os elementos do sangue, como glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. O dilema é que as doações de medula óssea somente podem ser feitas quando há compatibilidade entre o doador e o transplantado, o que torna o processo bem mais complexo, ainda mais quando as pessoas não são parentes.
Tanto é que indivíduos que se colocam como possíveis interessados em fazer a doação de medula óssea podem nunca doar de fato, já que a compatibilidade é fundamental. No Brasil, o banco de possíveis doadores conta com cerca de 5,9 milhões de brasileiros.
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O que é REDOME?
Antes de compreender como a doação de medula óssea funciona, é essencial conhecer o Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME). Administrado em parceria com o Ministério da Saúde, esta é a base nacional que armazena informações de todos os doadores voluntários cadastrados. Centralizar esses dados permite identificar mais facilmente possíveis casos de compatibilidades.
Feita por punção o aférese, a doação de medula óssea salva vidas, mas o número de brasileiros dispostos ainda é baixo (Imagem: Chad McNeeley/U.S. Navy/Domínio Público)
Curiosidade: o REDOME ocupa a posição de terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo.
Como ser um doador de medula óssea?
Agora, sim, é possível explicar como se tornar um doador de medula óssea. Existem três critérios excludentes:
Ter entre 18 e 35 anos no momento em que se realiza o cadastro; Estar em boas condições de saúde;
Não ter nenhuma das doenças impeditivas (compartilharemos a lista mais para frente).
Se você preenche os três critérios básicos (e eliminatórios), é preciso seguir os quatro seguintes passos para se tornar oficialmente um possível doador de medula óssea no Brasil:
1. Cadastro no REDOME
O primeiro passo é realizar o cadastro de interesse em ser doador no site ou no app REDOME (disponível para iOS e para Android). Também é possível ir diretamente a um hemocentro, sem o registro prévio (mas é bom ligar antes e confirmar os detalhes, como horário de atendimento).
Para manter atualizado os dados dos possíveis doadores de medula óssea, Brasil disponibiliza aplicativo que centraliza informações, o app REDOME (Imagem: Fidel Forato/Canaltech)
2. Exame de sangue
Após o cadastro, é preciso comparecer a um hemocentro, com um documento com foto para realizar um exame de sangue. Na amostra, será feito o teste de histocompatibilidade (HLA), usado para identificar as características genéticas do possível doador.
3. Manter os dados atualizados
Depois de validar o cadastro, o eventual doador deve manter os dados de contato atualizados no caso de sua doação de medula óssea ser necessária. Quando isso não é feito, pode atrasar todo o processo.
4. Confirmação de compatibilidade
Se o match entre um doador e alguém que precisa do transplante ocorrer, a pessoa é chamada ao hemocentro para uma nova rodada de testes. Dependendo dos resultados, a coleta das células-tronco hematopoéticas será feita.
Número de doadores de medula óssea no Brasil
No Brasil, são quase 6 milhões de possíveis doadores de medula óssea, mas existe um grande desafio que é a falta de variedade genética, algo que limita diretamente a compatibilidade. Entre os aptos, estão: 3 milhões são brancos, 1,5 milhão são pardos, 420 mil são pretos, 172 mil são amarelos, 22 mil indígenas e mais de 500 mil não informaram.
“O aumento da diversidade genética dos doadores voluntários é essencial para que os pacientes possam ter mais chances de encontrar um doador compatível, reduzindo também o tempo de espera pelo transplante”, destaca Maria Cristina Macedo, médica hematologista do IBCC Oncologia.
Como é feita a doação de medula óssea?
Para obter as células-tronco hematopoéticas, a equipe médica pode recorrer a três processos diferentes: punção, aférese ou coleta do cordão umbilical. Quando se pensa em doação de medula óssea, estamos falando dos dois primeiros casos. A seguir, entenda a diferença entre eles:
Punção: neste caso, o procedimento é realizado sob anestesia, e a medula óssea é retirada do interior do osso da bacia, através de punções. Isso requer internação em um centro cirúrgico;
Aférese: mais simples, o método envolve o uso de uma medição cinco dias antes da doação, o que faz com que o corpo do doador aumente a produção de células-tronco circulantes no sangue. Então, no dia indicado, o indivíduo realiza a doação de sangue, com uma máquina de aférese. Não há necessidade de internação e anestesia.
Após a coleta das células, o material doado é acondicionado em uma bolsa de criopreservação de medula óssea, congelado e transportado em condições adequadas, evitando a degradação.
É transplante de células-tronco hematopoéticas ou transplante de medula óssea?
O termo “transplante de medula óssea” é gradativamente substituído por “transplante de células-tronco hematopoéticas”. Isso porque, hoje, a punção da medula não é mais a única forma de obter essas células. Como explicamos anteriormente, elas podem ser coletadas a partir do sangue periférico ou do sangue do cordão umbilical. Apesar disso, não é errado usar o termo mais antigo.
O que acontece com a pessoa que doa a medula?
O procedimento de doação de medula óssea não causa problemas de saúde, mas pode desencadear efeitos adversos e exigir internação hospitalar. Aqui, é importante destacar que as células-tronco hematopoéticas voltam a se proliferar naturalmente e, passadas duas semanas, o organismo do doador já está recuperado.
Quais são os riscos de doar medula óssea?
Como são dois métodos de doação diferentes, os riscos e os efeitos colaterais também variam. Segundo o RADOME, pacientes que doaram por punção da medula óssea podem apresentar:
Dor no local da punção (no caso, no osso do quadril); Anemia leve; Cansaço após a doação.
De modo geral, estes indivíduos já podem retornar a suas atividades em uma semana após a coleta, sendo que a internação hospitalar tende a ser de dois dias.
Recuperação de pessoa que fez doação de medula óssea pode levar até uma semana, dependendo do método (Imagem: REDOME/INCA)
Em relação à doação por aférese de sangue, o problema mais comum são os sintomas gripais associados à medicação (pré-doação), incluindo dor no corpo, dor de cabeça e febre baixa. Após a coleta, é normal sentir dor no braço em que o sangue foi coletado.
O que impede uma pessoa de ser doador de medula?
Além da questão da idade, o fator saúde é fundamental na hora de selecionar um possível doador de medula óssea. A seguir, confira uma lista de doenças impeditivas do cadastro e da doação de células-tronco hematopoéticas, segundo o REDOME:
Hepatite C; HIV; Câncer, é impeditivo em quase todos os casos, mesmo que o paciente tenha alcançado a remissão; Artrite reumatoide; Lupus; Esclerose Múltipla; Síndrome de Guillain-Barré; Doença de Crohn; Epilepsia, quando a doença está controlada há mais de de 3 anos, sem crises; Diabetes, dependendo do quadro e da avaliação médica; Hipertireoidismo; Tuberculose extrapulmonar; Esquizofrenia.
Só pode doar medula até os 35 anos?
Na verdade, a doação de medula óssea pode ser feita por pessoas com até 60 anos (idade limite em que o cadastro permance ativo). No entanto, o cadastro somente pode ser feito por quem tem entre 18 e 35 anos. Esta limitação ocorre por questões práticas: quanto mais jovens é o doador, maiores são as chances de sobrevida do paciente transplantado. Então, a preferência é dada para aqueles com menos de 40 anos.
A lista de requisitos mínimos e de obrigações por quem se coloca como doador de medula óssea não é das mais simples, mas os critérios são necessários para garantir a segurança do procedimento e aumentar as chances de tudo ser bem-sucedido. Tudo isso é fundamental quando se pensa em salvar vidas.
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