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Ciência descobre que humanos modernos não vieram de um ancestral comum

Descoberta há poucos anos, a linhagem dos denisovanos, antigos humanos de uma espécie diferente, como os neandertais, continua surpreendendo arqueólogos e geneticistas. Pesquisas indicam que esses extintos seres cruzaram com os humanos modernos e tiveram filhos conosco diversas vezes ao longo da história, moldando profundamente nossa jornada evolutiva.

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O primeiro rascunho do genoma neandertal (Homo neanderthalensis) foi publicado em 2010, mostrando, em comparação com o genoma dos Homo sapiens, que nossa linhagem acasalou com a deles. Apenas poucos meses depois, análises do genoma de um dedo escavado na caverna de Denisova, nas montanhas Altai da Sibéria, levaram à descoberta dos denisovanos.

Miscigenação humana e os genes

Há 14 anos, essas descobertas foram as mais importantes em relação à evolução humana em muito tempo. Em um artigo que revisa esse corpo de pesquisas, a geneticista Linda Ongaro, da Faculdade de Genética e Microbiologia da Trinity College, resumiu a questão, publicando na revista científica Nature Genetics


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Poucos restos de denisovanos foram encontrados, como esses ossos, vindos de um híbrido entre a espécie e neandertais (Imagem: Brown et al./Scientific Reports)

Costuma-se achar, popularmente, que os humanos evoluíram de um ancestral comum único, de maneira linear e súbita. Ongaro desafia essa noção ao demonstrar que os humanos modernos acasalaram com diversas linhagens de hominínios diferentes, como neandertais e denisovanos, mudando nosso DNA ao longo da jornada.

Ao contrário da larga possibilidade de pesquisa que os vários restos neandertais providenciam, os fósseis denisovanos são compostos por apenas um dedo da mão, uma mandíbula, dentes e fragmentos de crânio.

Mesmo assim, conseguimos notar segmentos de DNA denisovano no nosso genoma moderno, mostrando que cruzamos com eles em pelo menos três momentos diferentes no passado. Cada uma dessas relações indica uma relação complexa entre as linhagens humanas um dia existentes.

A evolução humano não poderia ser mais diferente do que essa imagem — ela não foi linear e simples, mas teve muitos caminhos sem saída e miscigenação entre várias espécies humanas diferentes (Imagem: DEA Picture Library)

Ongaro, junto à cientista Emilia Huerta-Sanchez no artigo, sugere que os denisovanos tinham um alcance geográfico extenso, indo da Sibéria ao Sudeste Asiático, e da Oceania à América do Sul. Isso indicaria a adaptação a vários ambientes distintos, e, com isso, sua miscigenação conosco nos daria algumas vantagens ambientais.

Uma das características herdadas seria a tolerância à hipóxia, ou seja, a ambientes com baixo oxigênio — populações do Tibete, por exemplo, apresentam essa vantagem. Além disso, uma imunidade melhorada e melhor metabolismo de lipídios, garantindo calor quando expostos ao frio, teria beneficiado populações Inuítes no Ártico. Tudo vindo dos denisovanos.

Ainda há muito que analisar no genoma dos humanos extintos, como os dos neandertais e denisovanos, pintando um retrato mais completo de seu impacto no nosso genoma. Precisamos, para análises genéticas do tipo, encontrar mais fósseis denisovanos, dos quais sabemos muito pouco, especialmente de seus aspectos culturais.

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