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Bluetooth do paladar: você já pode sentir gosto à distância!

Vamos supor que você esteja conversando com um amigo ou um familiar que more em outro país. Ele está jantando algo diferente, que você nunca experimentou. E se você pudesse sentir um gostinho? Como brinquei no título da matéria, é como um Bluetooth do paladar. Na verdade, é até além. Afinal, o Bluetooth ainda depende de uma certa proximidade para funcionar.

Esse lanchinho remoto está mais próximo de se tornar realidade. Em um artigo publicado na revista científica Science Advances, uma equipe de pesquisadores relatou que voluntários provaram sabores que representavam amostras distantes de café, limonada, ovos fritos, bolo e sopa de peixe.

O trabalho foi conduzido por Yizhen Jia, estudante de engenharia de materiais na Universidade Estadual de Ohio, seu orientador Jinghua Li e outros colaboradores. O dispositivo foi batizado de e-Taste.

Como esse ‘paladar remoto’ funciona?

A tecnologia por trás não é tão simples de entender. Mas, para começar, esse “gostinho à distância” é possível graças a um sensor.

Jia descreveu uma das versões do dispositivo, que utiliza tecnologia de microfluídica. Parênteses: microfluídica é a ciência que estuda e o processamento de pequenas quantidades de fluidos em canais muito estreitos.

Na foto do experimento, há pequenos sachês pendurados no lábio – eles lembram aquelas embalagens de tempero de macarrão instantâneo. Esses sachês estão conectados a um tubo que se encaixa na boca.

Quando os sensores do dispositivo entram em contato com um líquido à distância, mini-bombas acionadas eletronicamente liberam substâncias que reproduzem o sabor correspondente. No experimento, os pesquisadores testaram a transmissão do gosto de um copo de limonada.

Em uma versão mais complexa, pacotes contendo vários ‘recheios’, como água salgada, ácido cítrico e glicose, são dispostos em um semicírculo sobre uma mesa, permitindo que uma pessoa na ponta do tubo receba outros sabores.

No artigo, voluntários receberam concentrações de aroma de limonada. Os participantes conseguiram classificar as amostras pela acidez. Isso funcionou tanto mergulhando o sensor na limonada, quanto misturando produtos químicos.

Receitas químicas também funcionaram para café, ovos fritos, bolo e sopa de peixe.

Mas nem todos os gostos são igualmente fáceis de simular. Ao lidar com pequenas quantidades de fluido, pode ser difícil acertar as concentrações de moléculas para que alguém tenha uma experiência semelhante ao alimento real. O cheiro e a textura estão interligados com a experiência gastronômica.

Essa imagem consta no estudo e, embora possa não ser muito didática para leigos, consegue ilustrar o que contamos no texto. Aqui na parte “C”, você vê os “sachês” que mencionamos pendurados no que seriam os lábios de quem está usando. Também é possível ver os sensores.

A finalidade do ‘gosto à distância’

Eu também me perguntei o objetivo dessa tecnologia. O pesquisador responsável argumenta que podemos ver e ouvir o que está acontecendo longe de nós. E por que não experimentar? Ou então provar receitas de um livro antes de colocar a mão na massa. Ainda: quando estiver fazendo compras online, você pode querer experimentar algo antes de comprar.

Talvez o uso mais provável seja na melhoria de sistemas de realidade virtual e realidade aumentada, impulsionando experiências imersivas. 

No momento, esses cenários ainda são peculiares (no mínimo). Os pesquisadores por trás do novo artigo, porém, não são os únicos trabalhando em dispositivos que podem nos permitir provar e cheirar coisas que não estão em nossa vizinhança imediata.

“Há pessoas tentando fazer isso com estimulação elétrica direta na língua”, disse o Yizhen Jia ao jornal The New York Times. “Há pessoas tentando usar outras maneiras de administrar os produtos químicos. Estamos usando uma bomba d’água”.

Os próximos passos

Os cientistas estão investigando se pequenas vibrações na língua podem ajudar a simular a textura dos alimentos. Eles também querem entender se os aromas podem ser usados ​​para ajudar a completar experiência sensorial. A equipe credita que pode fazer com que as bombas em miniatura sejam ainda menores.

E convenhamos: a ideia de ter algo pendurado no lábio não é muito prática. Quem sabe, um dia, a tecnologia evolua para um pingente, ou algo do tipo, transmitindo gostos de muito longe.

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