Bioluminescência: como e por que há animais que brilham?
A bioluminescência, a capacidade de organismos vivos de emitir luz, é uma adaptação fascinante que desempenha papéis fundamentais na sobrevivência e evolução de inúmeras espécies.
Essa característica evoluiu independentemente em diversos grupos ao longo da história da vida, sendo especialmente prevalente em ambientes marinhos profundos. Estima-se que 76% dos organismos da zona mesopelágica (que vivem de 200 a 1.000 metros de profundidade) apresentam algum nível de bioluminescência.
Como funciona a bioluminescência
De acordo com o artigo “Evolution of Bioluminescence in Anthozoa with Emphasis on Octocorallia”, a bioluminescência em octocorais (Anthozoa) remonta a mais de 540 milhões de anos e teria surgido como uma resposta a ambientes com pouca luz, proporcionando uma vantagem competitiva a organismos capazes de produzir luz. A descoberta foi publicada em 2023 no periódico Proceedings of the Royal Society B por Danielle M. DeLeo e colaboradores.
Esses organismos, encontrados predominantemente em águas profundas, utilizam a bioluminescência como um mecanismo multifuncional: para defesa, atração de presas e comunicação intraespécie. A pesquisa revela que a luz emitida por esses corais é resultado de proteínas fotônicas especializadas, que se ativam em resposta a estímulos externos, como o movimento de predadores ou correntes de água.
Medusas, como a Aequorea victoria, produzem luz por meio da interação entre a luciferina, uma molécula emissora de luz, e a enzima luciferase. Esse processo químico, chamado oxidação da luciferina, libera energia na forma de fótons, gerando luz fria, que não emite calor.

O mesmo mecanismo é encontrado em peixes como o peixe-pescador, que utiliza um apêndice luminoso para atrair presas, e em polvos e lulas, que emitem flashes de luz para confundir predadores.
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Diversidade de organismos com bioluminescência
Entre os organismos terrestres, os vaga-lumes são exemplos emblemáticos. Esses insetos utilizam sua bioluminescência para comunicação reprodutiva, emitindo padrões de luz específicos para atrair parceiros.
Em fungos, como os do gênero Mycena, a bioluminescência pode servir para atrair insetos que ajudam na dispersão de esporos. Embora menos estudada, a bioluminescência em fungos também segue o mesmo princípio químico, envolvendo luciferina e luciferase.

Há também organismos microscópicos, como dinoflagelados, presentes no plâncton marinho, que emitem flashes de luz quando são agitados pelo movimento das ondas ou pelo movimento de nadadores, causando o espetáculo raros das águas brilhantes nas praias.
O mais famoso exemplo desse fenômeno ocorre em algumas praias tropicais e subtropicais, como as de Porto Rico, Bahamas e até no Brasil. Esses dinoflagelados possuem uma reação bioquímica que resulta na emissão de luz fria, iluminando a água ao serem perturbados.

Aplicações científicas
Além de seu papel ecológico, a bioluminescência tem aplicações práticas significativas. Um exemplo é o uso da proteína fluorescente verde (GFP), derivada da água-viva Aequorea victoria.
Essa proteína revolucionou a pesquisa científica ao permitir o rastreamento de processos celulares em organismos vivos, técnica que rendeu o Prêmio Nobel de Química em 2008. Hoje, o GFP é amplamente usado em estudos de biologia molecular e biomedicina.
A bioluminescência não é apenas um fenômeno biológico fascinante, mas também um lembrete da capacidade adaptativa da vida em ambientes extremos. Como destaca DeLeo, “a conservação de habitats marinhos profundos é vital para proteger esses organismos únicos e os ecossistemas que eles sustentam.”
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