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Apple e Samsung estariam querendo comprar Intel; especialista duvida

Nos últimos anos, grandes fabricantes de smartphones, como Apple e Samsung, vêm solicitando uma demanda cada vez maior de chips ainda mais rápidos que seus antecessores, ainda mais na era da inteligência artificial (IA). Em contraste, a Intel, maior fabricante de processadores do mundo, vem enfrentando certa dificuldade financeira.

Isto posto, um rumo alimenta uma “união” entre as companhias. Supostamente, a empresa da maçã e a gigante sul-coreana estariam querendo comprar a histórica fabricante estadunidense de chips.

E qual a razão disso? Segundo o Phone Arena, isso tem a ver com o tamanho dos smartphones atuais, ao menos, os topo de linha de cada marca. Hoje, eles operam com chipsets de 3 nm. Para manter ganhos de desempenho e espessuras dos celulares cada vez mais finas, as fabricantes precisam de chipsets ainda menores. E há uma guerra sobre isso acontecendo nos bastidores.

A Apple teria acumulado todo o fornecimento da Taiwan Semiconductor Manufactoring Company (TSMC) para o futuro, enquanto a Samsung estaria tentando produzir seus próprios chipsets de 1,4 nm até 2027, contudo estaria enfrentando dificuldades.

O portal diz que relatórios apontam que nem mesmo o futuro iPhone 17 será fabricado com chipsets de 2 nm, sugerindo que a indústria enfrenta alguns problemas para fazer a tecnologia chegar a esse nível.

Por sua vez, a Samsung deve abandonar o processador Exynos na linha Galaxy S25 por conta de suas taxas de rendimento (vale lembrar que o S24 Ultra, por exemplo, possui chipset da Qualcomm, enquanto são os modelos mais básicos que possuem o Exynos).

Na opinião do Phone Arena, uma potencial aquisição da Intel por Samsung ou Apple representaria aumento de preço para o consumidor.

Mas, se qualquer uma delas conseguir obter sucesso em construir seus próprios chipsets, isso significaria que elas definiriam seus próprios preços, estariam protegidas de interrupções no fornecimento e teriam mais controle sobre a fabricação de seus produtos, possibilitando lançamentos anuais mais estáveis.

Imagina-se, ainda, que, se a maçã comprasse a gigante dos processadores e lograsse êxito em fabricar seus próprios modems internos para o iPhone, pode chegar a recordes de lucros.

Agora, se a Samsung for a possível compradora da Intel, todos os seus dispositivos poderiam ter o Exynos em seu interior e as críticas em cima do chip seriam minimizadas, ou, até, mitigadas.

Maçã tenta, inclusive, fabricar seus próprios modems para o iPhone (Imagem: TungCheung/Shutterstock)

Nem todos creem que a Intel será comprada por Samsung ou Apple

Apesar dos argumentos acima, nem todo mundo acredita que a Intel seria vendida. Para John Loeffler, do Tech Radar, isso não deve acontecer.

A fabricante estadunidense estar passando por um segundo semestre complicado, com demissões de milhares de pessoas e processadores da linha Arrow Lake criticados por conta de seu desempenho.

Outro fator preocupante tem a ver com o abastecimento de data centers de IA, pois a companhia não se dedicou tanto ao setor e, ultimamente, as empresas que precisam de chips para a tecnologia vêm comprando chips da TSMC produzidos pela Nvidia em Taiwan.

Por isso, segundo o jornalista, muitos colocam a Intel no radar de Samsung, Apple e até da Qualcomm. Mas ele argumenta que esses relatórios não podem ser levados a sério e ressalta as condições geopolíticas da indústria de semicondutores, que, para ele, apontam para a Intel seguir como uma empresa independente fabricante de chips nos EUA.

Alguns dos argumentos que refutam a transação

Loeffler explica algumas questões que impedem que essa transação histórica ocorra:

A posição da Intel no mercado não é ótima, mas, também, não é catastrófica;

Ela continua produzindo ótimos produtos, apesar de a última linha de processadores Core Ultra não serem superiores à linha passada;

Todavia, são superiores, em termos de desempenho, aos Ryzen 9000 da rival AMD;

Os chips da TMSC, por sua vez, têm 3 nm e contam com, basicamente, o menor transistor produzível em silício. Mas há um perigo sobre essa tecnologia: fluxos menores e reais de elétrons que colocam o processador para funcionar podem deformar, fisicamente, os átomos que compõem um transistor, levando a erros, vazamentos de tensão e outros problemas que diminuem a vida útil dos 3 nm em meses, ao invés de anos;

Já a Intel ainda não chegou aos 3 nm e segue produzindo, na opinião do jornalista, os melhores chips do mundo, o que significa que as fundições da estadunidense têm muito mais espaço para melhorar do que as da TSMC;

Isso também quer dizer que as rivais da Intel que buscam a empresa taiwanesa para fabricar seus chips, em dado momento, terão que recorrer à companhia estadunidense para obter melhor desempenho.

Outro ponto: a TSMC construiu uma fundição de semicondutores nos EUA, no Estado do Arizona, mas que só deverá passar a produzir chips em 2025. Ainda assim, será uma pequena porção da produção total da empresa, realizada em Taiwan.

Geopoliticamente falando, Taiwan é considerada, pelo governo chinês, uma província renegada da China continental. Até hoje, os taiwaneses lutam para serem independentes, mas até os EUA parecem concordar na chamada política de “Uma China”, onde Taiwan e o restante do continente seriam reunificados.

Taiwan produz a grande maioria de semicondutores globais, ao passo em que os EUA seguem proibindo empresas locais de exportar chips para a China. Portanto, se Taiwan virar, definitivamente, parte da China continental no futuro próximo, é bem provável que os chineses limitarão a exportação de chips taiwaneses para os EUA em resposta.

Já a Samsung, outra empresa com fundições de semicondutores reais em condições de competir com a Intel, tem sede na Coreia do Sul, que está em vias de entrar em guerra com a vizinha Coreia do Norte, país beligerante com armas nucleares e estrutura de liderança instável, relembra o jornalista.

Logo, é outra região na qual os EUA não podem confiar em basear toda sua economia, com o mundo cada vez mais volátil (lembre-se que os EUA apoiam a Coreia do Sul, enquanto a Rússia é norte-coreana. Temos, ainda, as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, onde as escaladas de tensões estão aumentando cada vez mais).

Portanto, a Intel, que possui 100% de suas fundições em solo estadunidense, seria a única empresa com fonte confiável e garantida de processadores capazes de alimentar a economia e as forças armadas locais, caso houvesse um conflito armado ou uma nova Guerra Fria, dessa vez com a China (ou quem sabe com a Rússia?), algo cada vez mais possível na atualidade.

Ou seja, a empresa jamais seria comprada por outra que seja estrangeira, pois nenhum presidente ou o Congresso aceitariam por questões de segurança nacional (é só ver a polêmica em torno do TikTok, que pertence à chinesa ByteDance e que precisa ser vendida para uma empresa estadunidense até o fim deste ano, sob pena de ser banido do país).

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E uma empresa dos EUA, poderia comprar a Intel?

Para Loeffler, apesar de, do ponto de vista da segurança nacional, isso ser teoricamente possível, empresas que teriam “bala na agulha” para conseguir tal feito, como Apple, AMD, Nvidia e Qualcomm, possuem laços extensos com Taiwan e China quando se fala de fabricação.

Sendo assim, seria necessário, ao menos, que essas empresas se comprometessem com o governo estadunidense a, pelo menos, enfraquecer esse laço antes de pensarem em adquirir a Intel, única produtora de semicondutores dos EUA.

Afinal, deixar uma companhia como a Intel nas mãos de quem tem certo conflito de interesses envolvendo EUA e China não seria algo muito inteligente. Além disso, nenhuma das empresas citadas aceitaria tais concessões.

Isso porque ainda é bem mais barato produzir itens em Taiwan e na China do que nos EUA. Então, sacrificar as relações com ambos em prol de adquirir a Intel traria muito mais ônus do que bônus para elas, pois, com certeza, pesaria contra os lucros.

Sem falar nos reguladores, que não ficariam nada felizes com esse tipo de consolidação da indústria, mesmo nos EUA e mesmo com um governo favorável aos negócios.

É algo que ninguém poderia aceitar, de forma responsável, sem trazer, consigo, um grande risco, tanto para a economia local, como para o exército, que depende de chips confiáveis e produzidos internamente para seus equipamentos.

Ele relembra também, que a competição da Intel a ajuda a manter “afiada”. “Uma coisa é ter a Starliner, da Boeing, decepcionando na ISS; outra coisa, é ter os chips da Intel falhando quando são integrados a todos os mísseis, aviões e mais da América”, opina.

O jornalista é enfático: “Google, Meta, Amazon e Cisco se fundirão em um super-conglomerado antes que a Intel se funda com AMD, Qualcomm ou Nvidia. A independência da Intel é vital demais para a segurança nacional para que se jogue nela com quaisquer mudanças no status quo. Isso simplesmente não vai acontecer.”

Sul-coreana poderia obter êxito com seus chipsets Exynos (Imagem: Ascannio/Shutterstock)

O que vai acontecer, então?

Para Loeffler, é preciso parar de olhar para a Intel como qualquer outra ação nas bolsas de valores.

Exemplos que ele usa para ilustrar a questão envolvem Raytheon e Lockheed Martin, que até podem ter trimestres ou anos em baixa, mas que não irão a lugar algum. Isso porque elas produzem as armas usadas pelos EUA e o país sempre irá comprar os produtos de ambas.

Além disso, a própria gigante de chips começou mais ou menos assim. Ela e suas empresas antecessoras que se fundiram e viraram a moderna Intel impulsionaram o programa Apollo, da NASA, centros de pesquisa governamentais e outras importantes infraestruturas, bem como o programa de mísseis ICBM Minuteman.

A companhia segue fornecendo chips para hardware militar moderno, como satélites e equipamentos de campo, além de equipamentos hospitalares, de usinas de energia, de tratamento de água, entre outros.

Por isso, ele entende que, no pior cenário, a big tech receberá, do governo, o dinheiro e recursos necessários para seguir forte e manter as peças chegando. O especialista rememora que a recente lei CHIPS trata exatamente disso.

Na década de 1960, foi feito exatamente isso: nenhuma empresa conseguia comprar processadores de 10 kHz que custavam milhares de dólares cada. O governo, então, comprou os que conseguiu e encontrou usos para cada um deles, ajudando, assim, com o capital inicial crítico que a indústria de semicondutores precisava para sem bem-sucedida.

No tempo em que vivemos, é difícil imaginar a Intel sofrendo a mesma pressão pela qual passou quando engatinhava. E que é de muito interesse dos EUA manter a empresa viva, bem, independente e em solo estadunidense, independente dos rumores que saíram ou que venham a sair sobre ela.

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