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Análise | Vagrus – The Riven Realms: uma caravana pelo apocalipse, entre mortos, demônios e boletos vencidos

Imagine que Mad Max foi jogado no universo de Dark Sun, com a cabeça enfiada num balde de livros do Kentaro Miura, enquanto lia regras de Dungeons & Dragons com a voz do Morgan Freeman narrando sua destruição inevitável. Bem-vindo ao mundo de Vagrus – The Riven Realms, um RPG indie que parece ter sido feito especialmente para quem sente saudade da dor de perder tudo porque apostou que dava pra atravessar um deserto com meia garrafa d’água e dois pães duros.

Desenvolvido pela Lost Pilgrims Studio, Vagrus não entrega uma história qualquer. Ele te coloca na pele (descascando de sol) de um “vagrus”, um líder de caravana nesse mundo pós-apocalíptico, com a missão de sobreviver, lucrar e manter sua equipe viva enquanto criaturas grotescas e impérios falidos tentam te engolir com o mesmo entusiasmo de um baús mimético num calabouço escuro.

O Lore: um show de horrores e poesia decadente

Xeryn, o continente onde se passa o jogo, é o resultado de uma orgia cósmica entre divindades que decidiram jogar The Sims com a humanidade e largaram o jogo ligado enquanto saíram pra comprar cigarro. O mundo já viu dias melhores, mas agora é só poeira, ruínas, loucura e sussurros de entidades que fariam Cthulhu parecer um velho rabugento inofensivo.

E é tudo contado com uma qualidade de escrita digna de uma campanha old school de D&D, misturando narrativa interativa com descrições densas e detalhadas que fariam Planescape: Torment aplaudir de pé. Cada evento tem peso, cada escolha é carregada de tensão, e cada decisão errada pode transformar seu mercador preferido num esqueleto seco no meio do nada.

Gameplay: Excel, Darkest Dungeon e uma pitada de masoquismo

Vagrus é um jogo sobre gestão. E aqui, meu amigo, não tem planilha do Google que te salve. Você precisa cuidar dos suprimentos, da moral, da grana, das rotas comerciais e ainda dar conta de montar uma equipe de combate que não morra ao ver um rato mutante com uma faca.

O combate é tático, em grid, com um ritmo mais lento, quase meditativo, onde cada movimento é uma oração sussurrada para que você não erre aquele ataque final. A sensação de estar sempre a um turno da catástrofe é real. E se você estiver lembrando de Darkest Dungeon, você está no caminho certo – só que aqui, ao invés de enlouquecer, seus personagens só morrem mesmo.

O mapa não é seu amigo. Nem o jogo. Nem o mundo.

Explorar é um terror controlado. O mapa de Vagrus é dividido em regiões, com viagens feitas a partir de um hub central (alô, Mesa Redonda, sentiu saudades?). Nada de mundo aberto aqui: o caminho é linear, cheio de armadilhas, encontros aleatórios e decisões como: “devemos ajudar esse grupo de mendigos espectrais ou ignorá-los e seguir a rota comercial?” Spoiler: não tem resposta certa.

E como se não bastasse, você nem pode pular ou escalar. Sua mobilidade se resume a… caminhar e aceitar seu destino. É um tributo direto às eras mais brutais dos CRPGs, daqueles que não têm medo de dizer: “não, você não pode fazer isso, e sim, você vai morrer tentando”.

Sistema de combate: entre Sekiro e o excel do inferno

Sim, vamos repetir: o combate é tático e cruel. Posicionamento é tudo. Habilidades são limitadas. Estámina, moral, cobertura, efeitos persistentes… tudo isso em combates que vão te fazer gritar com seu monitor. Mas tem algo de poético nisso. É como dançar um tango sangrento com a morte, onde cada passo em falso é punido com a perda de um companheiro valioso.

E diferente de jogos como Pathfinder: Wrath of the Righteous, aqui não tem como automatizar. Você vai planejar cada batalha com o cuidado de quem está jogando xadrez contra a Morte, enquanto ela toma um café olhando pro relógio.

Trilha sonora: lamento e tambor tribal

A música de Vagrus não está aqui pra te entreter. Ela é parte da opressão. São cantos fúinebres, tambores distantes, notas que se arrastam como as caravanas do jogo. Em alguns momentos, você sente que está ouvindo o próprio coração do mundo batendo mais devagar, só esperando o último suspiro.

Progressão e sistema de habilidades: Pathfinder com soluço

A árvore de talentos é tão vasta quanto o desespero de perder um personagem que você investiu 10 horas. As especializações, perícias e sinergias são complexas, mas profundamente recompensadoras. É o tipo de jogo que, se você montar um build errado, vai aprender do jeito mais rápido e cruel: sendo trucidado por uma rã gigante com corona demoníaca.

Dificuldade: Dark Souls é fichinha perto disso

Sabe quando você achava que Elden Ring era difícil? Irmão, em Vagrus, até o tutorial tem vontade de te matar. O jogo é punitivo, não tem pena e, se você não prestar atenção, sua caravana vira comida de abutre. Mas… cada vitória tem gosto de troféu, cada cidade alcançada é um milagre. E é isso que nos prende: o jogo respeita sua inteligência e desafia sua resiliência.

Prós e Contras

Prós:

  • Narrativa profunda e imersiva, digna de uma campanha de mesa
  • Combate tático envolvente e desafiador
  • Sistema de gestão robusto e cruelmente satisfatório
  • Ambientação densa e sombria

Contras:

  • Curva de aprendizado pode afastar iniciantes
  • Interface poderia ser mais amigável
  • Falta de opções de acessibilidade

Nota Final: 8/10

Em uma era onde muitos RPGs têm medo de frustrar o jogador, Vagrus olha nos seus olhos e diz: “te vira”. É uma experiência rara, feita para um público que quer mais do que brilho gráfico: quer profundidade, desafio, e um mundo que te devora com prazer.

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