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Abismos profundos na superfície podem indicar presença de oceano escondido em lua de Urano

Um artigo publicado este mês no periódico científico The Planetary Science Journal sugere que a lua Ariel, de Urano, pode esconder um oceano subterrâneo. A evidência vem de abismos profundos na superfície, que podem conter material expelido do interior, oferecendo uma oportunidade única para estudar esse mundo gelado sem a necessidade de missões mais invasivas.

Astrônomos já suspeitam que várias luas de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno possam ter oceanos escondidos sob espessas camadas de gelo. No caso de Ariel, a presença de dióxido de carbono (CO2) congelado e outros compostos contendo carbono nos desfiladeiros levanta a hipótese de que esses materiais tenham vindo de processos químicos internos.

Em um comunicado, Chloe Beddingfield, geóloga planetária da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, explica que esses abismos são os melhores locais para procurar sinais da atividade subterrânea da lua. “Nenhuma outra característica da superfície mostra evidências tão claras de transportar materiais do interior para a superfície”, afirma.

Uma imagem composta tirada pela câmera de ângulo estreito da sonda Voyager 2 em 24 de janeiro de 1986 mostra a superfície densamente esburacada e sulcada da lua Ariel, de Urano. Crédito: NASA / Laboratório de Propulsão a Jato. Crédito: NASA / Laboratório de Propulsão a Jato

Oceano subterrâneo em lua de Urano seria  mantido pela energia gravitacional

As fendas de Ariel chamam atenção porque apresentam sulcos paralelos, considerados algumas das formações mais jovens da lua. A origem desses sulcos não é bem compreendida, mas cientistas acreditam que eles podem ter surgido devido a uma combinação de atividade tectônica e vulcânica. Para testar essa ideia, Beddingfield e sua equipe analisaram dados de observação e usaram modelos de formação geológica.

Os pesquisadores concluíram que um processo semelhante ao espalhamento do fundo oceânico na Terra pode ser responsável pelas marcas observadas. No nosso planeta, esse fenômeno ocorre em dorsais oceânicas, onde o magma sobe do interior, empurra a crosta e cria novas formações. Em Ariel, algo semelhante pode ter acontecido: material quente pode ter subido e separado a crosta da lua, antes de se solidificar e preencher a fissura aberta.

Uma imagem tirada pela Voyager 2 da superfície de Ariel exibe um sulco medial (marcado por uma seta). A imagem foi cortada e modificada para dar ênfase. Crédito: NASA / Laboratório de Propulsão a Jato

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A equipe reforça essa ideia com um experimento visual: ao “fechar” digitalmente os abismos de Ariel, os dois lados das fendas se encaixam perfeitamente. Além disso, os sulcos paralelos em seu interior sugerem que novos materiais foram depositados ao longo do tempo, o que apoia a hipótese do espalhamento.

Outro ponto importante é a influência da ressonância orbital. No passado, as luas de Urano entraram em um ciclo no qual suas órbitas interagiam de maneira precisa, gerando forças gravitacionais que causavam aquecimento interno. Esse aquecimento poderia ter derretido parte do interior da lua, criando um oceano subterrâneo mantido pela energia gravitacional.

Se esse oceano realmente existir, ele pode ser responsável pelo CO2 congelado encontrado na superfície de Ariel. No entanto, ainda não há informações suficientes para confirmar essa relação. “O tamanho e a profundidade desse oceano ainda são estimativas. Ele pode ser isolado demais para interagir diretamente com as fendas”, explica Beddingfield.

A principal limitação para aprofundar esses estudos é a falta de dados mais detalhados. A sonda Voyager 2, que passou por Urano na década de 1980, não tinha instrumentos capazes de mapear a composição química dos depósitos de gelo em Ariel. Isso reforça a necessidade de novas missões espaciais para explorar Urano e suas luas – que totalizam atualmente 28.

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