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Queda nas ações da Apple: risco ou oportunidade?

Algumas semanas atrás, eu postei um artigo aqui no MacMagazine sobre como é ser um sócio da Apple.

Naquela ocasião, o preço da ação da companhia estava em US$222,78. Passados poucos dias, uma grande oscilação assombrou o mercado, fazendo com que as ações caíssem para US$168,79 em determinado momento. Esse movimento assustou muitos investidores. Dois leitores do MM me escreveram no Instagram perguntando se eu iria vender minhas ações, um terceiro falou que comprou por minha causa e agora estava no prejuízo!!

A volatilidade, por mais desconfortável que seja, é parte inerente dos mercados e, para quem investe com consciência, ela pode ser mais aliada do que vilã. Vamos, então, entender alguns fundamentos do mercado financeiro que nos ajudarão a analisar com sobriedade e intencionalidade esses movimentos econômicos.

Mr. Market

Mercado. Ouvimos muitas vezes essa expressão definindo o movimento do mercado financeiro. Mas o que é o mercado? Vamos compreender na visão do maior investidor do mundo: Warren Buffett.

Buffett costuma dizer que o mercado é como um personagem imaginário chamado Mr. Market (Sr. Mercado). Todos os dias, o Sr. Mercado bate à sua porta oferecendo comprar ou vender ações a um determinado preço. Às vezes, ele está otimista e oferece preços muito altos. Em outras, está pessimista e oferece preços muito baixos.

A chave, segundo o investidor, é entender que você não precisa seguir o humor do Sr. Mercado. Ele está lá apenas para servir você — não para guiá-lo. Seu trabalho é aproveitar as boas oportunidades quando o Sr. Mercado estiver sendo irracional. Se hoje ele quiser vender algo que vale muito por um preço muito baixo, ótimo! Se ele pedir um preço absurdo por algo comum, você simplesmente ignora.

Nos últimos dias, o Sr. Mercado andou muito estressado e pessimista; vamos entender por que.

A oscilação de preços

A recente oscilação das ações da Apple está inserida em um contexto macroeconômico desafiador. Desde a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, o clima tem estado agitado no cenário político global. Em março de 2025, o mercado financeiro foi impactado por uma nova rodada de tensões entre os Estados Unidos e os seus principais parceiros comerciais.

O governo americano anunciou a imposição de tarifas agressivas sobre importações, com foco direto em países como China e membros da União Europeia. A resposta dos mercados foi imediata. Investidores reagiram com cautela, e as bolsas sofreram correções. O índice Nasdaq, altamente concentrado em empresas de tecnologia, acumulou perdas significativas, e a Apple — com sua estrutura produtiva fortemente vinculada à Ásia — acabou sofrendo impactos diretos.

No gráfico a seguir, podemos observar a oscilação semanal do preço das ações da Apple desde janeiro deste ano:

Além disso, o temor de um novo ciclo inflacionário, combinado à postura ainda conservadora do Federal Reserve (o Banco Central Americano), gerou incerteza sobre os próximos passos da política monetária americana, pressionando ainda mais os ativos de risco.

Fundamentos da Apple

Mas e os fundamentos da Apple, mudaram? É aqui que muitos se perdem. A queda no preço da ação não significa, necessariamente, uma queda no valor da empresa.

Quando falamos em fundamentos, estamos falando do desenvolvimento financeiro, mercadológico e econômico de uma empresa. A Apple segue apresentando fundamentos sólidos que a tornam uma das companhias mais resilientes do planeta:

  • Geração de caixa extremamente robusta que permite recompras de ações, dividendos e expansão estratégica.
  • Modelo de negócio verticalizado e integrado, com controle desde o design até a experiência do usuário, resultando em margens operacionais consistentes.
  • Ecossistema que cria dependência positiva entre dispositivos e serviços, elevando o “custo de troca” para o consumidor.
  • Receitas cada vez mais diversificadas, com destaque para o crescimento do segmento de serviços, altamente lucrativo.

Mesmo em um ambiente de incerteza, a empresa divulgou uma receita superior a US$124 bilhões no primeiro trimestre fiscal de 2025, com crescimento de 10% no lucro por ação. Resultados sólidos assim não surgem por acaso — são fruto de uma gestão eficiente, estratégica e disciplinada. E os riscos? Sim, eles existem — e ignorá-los seria ingenuidade.

A forte dependência da China para a fabricação de dispositivos ainda é um ponto vulnerável, especialmente diante de um cenário geopolítico incerto. Além disso, a Apple segue no radar de diversas agências regulatórias pelo mundo, enfrentando questionamentos sobre monopólio, práticas na App Store e uso de dados. Outro fator relevante é a saturação percebida no mercado de smartphones, que pressiona a companhia a acelerar inovações em outros segmentos e criar novos motores de crescimento além do iPhone.

Conclusão: risco ou oportunidade?

A verdade é que volatilidade e risco são coisas diferentes. A volatilidade é o movimento natural do mercado no curto prazo — o humor do Sr. Mercado —, muitas vezes movido por medo, ruído e comportamento de manada. Já o risco real está em investir sem entender o que se está comprando.

Para o investidor consciente, a atual queda das ações da Apple pode representar uma excelente janela de entrada, desde que a decisão esteja ancorada em análise de fundamentos, visão de longo prazo e tolerância emocional a cenários turbulentos. Imagine que quem comprou a ação por US$168,50, hoje já teria valorizado seu patrimônio em quase 20% (o preço atual da ação, no momento em que escrevo este artigo, está em US$202,48).

A Apple já atravessou diversas crises — e, em muitas delas, saiu ainda mais forte, impulsionada pela sua capacidade de entregar valor consistente aos acionistas. Em tempos de incerteza, é justamente a qualidade da empresa que deve orientar a decisão — e não o pânico momentâneo do mercado.

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