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Verme intriga ciência por ter “faro para o perigo”

Um dos animais mais estudados pela ciência tem o poder de se antecipar ao perigo pelo faro. O sistema imunológico do nematoide Caenorhabditis elegans consegue identificar possíveis ameaças pelo cheiro, como uma bactéria, e preparar o organismo para a infecção antes que ela aconteça.

A capacidade desse verme foi o foco de um recente experimento da Universidade da Califórnia, em Berkeley. O objetivo era entender como o mecanismo de proteção do animal funcionava. Detalhes do estudo foram publicados na revista Science Advances.

Como funciona o “faro para perigo” do verme

Sabe aquele hábito de cheirar a comida antes de comer? É um mecanismo humano para evitar consumir algo que potencialmente pode nos fazer mal. No caso do verme Caenorhabditis elegans, seus neurônios olfativos enviam um sinal de alerta para o sistema imunológico quando detectam uma “comida estragada” ou, mais precisamente, patógenos, como bactérias.

No entanto, em vez de evitar que o verme se alimente das bactérias, ao detectar o cheiro perigoso, o organismo do animal começa a se preparar para combater a infecção antes mesmo dela acontecer.

Ilustração da estrutura do Caenorhabditis elegans – Imagem: Zhao Bingbing/Shutterstock

Basicamente, começam a destruir partes importantes de suas células chamadas mitocôndrias, que são como as “baterias” do corpo. Elas também armazenam o ferro essencial para a sobrevivência de bactérias invasoras. Ou seja, ao se livrar das mitocôndrias, também se livram do ferro. Assim, os vermes se protegem contra futuras infecções.

Os cientistas da Universidade da Califórnia, Berkeley, acreditam que essa estratégia defensiva evoluiu para ajudar os vermes a sobreviver. Eles precisam comer bactérias para viver, mas não têm a visão para diferenciar as boas das ruins. Por isso, evoluíram para usar o olfato como ferramenta de proteção.

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Experimentos aprofundam conhecimentos da ciência sobre o verme

As bactérias liberam um subproduto natural chamado metabólitos voláteis, por onde passam. É por meio deles que o C. elegans sente o cheiro delas.

A Pseudomonas aeruginosa, uma bactéria que mata o verme, libera um metabólito chamado acetilpropionil.

Nos novos experimentos, o sistema nervoso olfativo do verme foi capaz de identificar o acetilpropionil.

Ao fazer isso, desencadeou uma resposta de estresse mitocondrial em suas células. Os cientistas capturaram isso com uma coloração verde fluorescente.

Células do C. elegans em verde fluorescente marcando a ativação do estresse mitocondrial. Esquerda: sem ativação olfativa. Direita: com ativação olfativa. Imagem: Julian Dishart e Andrew Dillin/UC Berkeley

Geralmente, os neurônios olfativos do animal ficam ativados o tempo todo até detectarem algum odor, ficando silenciosos depois disso.

Quando os pesquisadores os silenciaram propositalmente, o sistema imunológico dos vermes permaneceu em um estado de prevenção, independentemente da presença do cheiro perigoso.

Ou seja, quando esses neurônios estão inativos, o corpo do verme já sabe que algo de ruim está acontecendo e precisa se preparar.

Outros animais podem ter o “faro”?

Ainda não se sabe se o “faro para o perigo” do C. elegans é um poder exclusivo dele ou se outros animais também podem ter mecanismos de defesa semelhantes. No entanto, o pesquisador Julian Dishart acredita que a segunda alternativa seja provável devido à conservação do olfato em outras linhagens.

É totalmente possível que o cheiro esteja fazendo algo semelhante em mamíferos ao que está fazendo em C. elegans.

Julian Dishart em comunicado de imprensa.

Independente do caso, novos estudos são necessários tanto para explicar se outros vermes com sistema nervoso olfativo possuem o mecanismo quanto para compreender se nós, humanos, fazemos isso de algum modo também. Se a resposta for sim, os pesquisadores imaginam a possibilidade de criar um “perfume protetor” que ajude a nos defender de patógenos.

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