Review: Bleach Rebirth of Souls é estilosão e tem combate “no ponto”
Quem gosta, ama; quem não gosta, odeia. Apesar de Bleach pertencer ao panteão dos maiores animes de todos os tempos, a interminável obra de Tite Kubo não é unanimidade entre os fãs de Shounen e chega a gerar debates acalorados na internet sobre a qualidade de seus arcos e as lacunas na história.
Produzido pela Tamsoft, estúdio por trás de Captain Tsubasa: Rise of New Champions, Bleach Rebirth of Souls não tenta convencer ninguém de que Bleach é o melhor anime de ação. Em vez disso, almeja ser o jogo de luta em arena 3D mais estiloso e autoral dos tempos atuais, goste ou não da criação do mestre Kubo.
Ainda que traga bons conceitos à mesa e seja fiel ao anime no qual é baseado, Rebirth of Souls fica à sombra do que vimos em adaptações recentes de Naruto e Dragon Ball. A boa notícia, no entanto, é que a franquia está no caminho certo. Confira nosso review completo!
A evolução da barra de vida
Rebirth of Souls possui todos os requisitos de um arena fighter tradicional de 1 contra 1 e, à primeira vista, não parece ter a intenção de se dissociar dos maneirismos do gênero. Há, no entanto, um esforço nítido da desenvolvedora em potencializar as virtudes dos jogos de luta 3D, com poucas, mas boas ideias originais.
A começar pela dinâmica básica de vencer a partida: a regra aqui é destruir todos os Konpakus do oponente, isto é, as vidas do personagem. Os Konpakus, contudo, só são destruídos quando reduzimos a 0% o medidor de Partículas Espirituais, que funciona de maneira similar a um escudo de proteção.
Embora não seja pensado para o competitivo, até por ter personagens propositalmente quebrados em relação aos outros, existe uma complexidade muito bem-vinda aqui
O fluxo, portanto, consiste em golpear o adversário com ataques básicos até diminuir o seu medidor, para então executar uma finalização capaz de quebrar as reais barras de vida do personagem, ou seja, os Konpakus. Na teoria, o sistema pode parecer técnico e um tanto abstrato, mas é o tipo de coisa que se domina em duas ou três partidas.

Flow Games/Victor Teixeira
O fato de não haver uma barra de vida nos moldes tradicionais de outros jogos de luta assegura uma profundidade de gameplay que eu não esperava encontrar em Rebirth of Souls. Os combates, inclusive, a depender de com quem e contra quem se está jogando, podem se estender por bons minutos, tal como um confronto coreografado de anime.
Dança com espadas
As batalhas apresentam uma fluidez satisfatória e imprimem um ritmo que transita entre o frenético e o contido, encontrando o ponto de equilíbrio ideal no que diz respeito à cadência dos golpes. Você não sente as infames “pausas robóticas” ao término de uma sequência de ataques, o que permite encaixar combos imparáveis com mais naturalidade.
Os golpes básicos de Bleach Rebirth of Souls operam no esquema de pedra, papel e tesoura: ataques interrompem agarrões (chamados de rupturas), bloqueios protegem contra ataques e, por fim, a ruptura anula o bloqueio. Bloquear o tempo todo, aliás, não é uma estratégia inteligente, pois há um medidor de bloqueio que limita sua defesa quando usada sem controle.

Flow Games/Victor Teixeira
Você ainda pode acumular uma quantidade de Espíritos de Luta para ativar a forma Despertar, cujo objetivo é amplificar temporariamente as habilidades do personagem, permitindo executar poderosas Técnicas Kikon, capazes de arrancar mais barras de vida do oponente de uma só vez.
Com tudo isso dito, fui pego desprevenido (ainda bem) pela profundidade das mecânicas de Rebirth of Souls e pelas ferramentas que o título oferece para que o jogador se sinta apto a mudar o rumo da partida, mesmo diante de um cenário desfavorável. Afinal, não é qualquer jogo de anime que flerta com os mecanismos profundos dos jogos de luta 2D e se propõe a ir além das convenções do gênero.
Outro aspecto surpreendente é que os mais de 30 lutadores disponíveis – um número excelente para o elenco inicial, a meu ver – têm padrões únicos de ataque e não são somente skins de Ichigo. Embora não seja um game pensado para o competitivo, até por ter personagens propositalmente quebrados em relação aos outros, existe uma complexidade muito bem-vinda aqui.

Flow Games/Victor Teixeira
Faltou sustância
Apesar do combate exemplar de Bleach Rebirth of Souls, não há muitas opções de jogo para desfrutar dele além do modo história, do multiplayer e das missões offline. No componente online, por exemplo, já não temos partidas ranqueadas, pelo menos não no lançamento, enquanto o modo single-player carece de sustância.
Jogando sozinho, você pode aproveitar para exercitar combos numa sala de treinamento e desafiar uma série de três oponentes da CPU em diferentes níveis de dificuldade nas missões. O objetivo é ganhar Pontos de Alma para gastar na Loja Urahara: você encontra desde itens cosméticos a amplificadores de poder espiritual, aqui conhecidos como Cristais da Alma. E, basicamente, é isso.
O modo história, por sua vez, passeia pelos principais arcos de Bleach de maneira intempestiva, sem contextualizar alguns dos principais personagens que compõem a narrativa. Se você não é familiarizado com a trama de Ichigo Kurosaki, talvez tenha dificuldade de entender a conexão entre certos acontecimentos e a relação de alguns heróis e vilões, cuja aparição muitas vezes é repentina e descoordenada.

Flow Games/Victor Teixeira
Numa tentativa de estimular o jogador a experimentar seus diferentes modos, Bleach Rebirth of Souls nos recompensa com pontos de experiência e dinheiro a cada confronto jogado, vencendo ou perdendo. O sistema de progressão, porém, não oferece muitos incentivos e meio que só serve para embelezar o seu cartão de usuário com um nível alto, o que é um tanto decepcionante se considerarmos que o título não tem tanto conteúdo assim para ofertar – evoluir serviria como pretexto para a repetição.
Fashion Bleach
No embalo de Bleach: Thousand-Year Blood War, já em sua terceira temporada no Disney+, Rebirth of Souls incorpora a estética do anime recente para se tornar um dos jogos mais estilosos e autorais que eu já vi na vida, sem brincadeira – creio que as imagens em destaque nesta análise falem por si só.
Com requintes de Persona e outras produções da Atlus, RoS se apoia em cores vibrantes, tanto em seus menus de pausa quanto em seu painel de combate, e esbanja bom gosto em todos os elementos, até mesmo na fonte escolhida para os textos. Pode ser indiferente para muita gente, mas o estímulo visual transmitido pela interface de Rebirth of Souls parece nos instigar a jogar mais.
E o que dizer sobre a trilha sonora? Impecável, digna de Grammy. Me arrisco a dizer que Bleach tem algumas das melhores e mais memoráveis músicas japonesas, e essa qualidade também se reflete em Rebirth of Souls. Isso transforma o modo história em uma extensão digna do anime em termos de atmosfera.
Veredito
Concorde ou discorde, a verdade é que os jogos de luta em arena 3D estiveram parados no tempo no quesito criatividade, apesar de o gênero ter rendido bons títulos na atual geração. Bleach Rebirth of Souls se compromete a ser um ótimo arena fighter e cumpre sua proposta, agregando boas ideias ao combate e trazendo muita personalidade em sua arte.
Por outro lado, como representante da obra do mestre Kubo nos videogames, Rebirth of Souls faz o básico e se contenta em ser “o jogo de anime padrão”: poucos modos, história apressada e um multiplayer que não soube aproveitar os maiores méritos do gameplay. Ainda assim, se você é fã da série, vai encontrar muita diversão por aqui.
Testado no PS5 Pro.
Um código de Bleach Rebirth of Souls foi gentilmente fornecido pela Bandai Namco para a realização deste review.