Alexandre de Moraes critica Big Techs: “Não são enviadas de Deus”
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez duras críticas às big techs e ao uso das redes sociais para “atacar os pilares da democracia“. Durante uma aula inaugural na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), ele afirmou que essas empresas manipulam informações com objetivos econômicos e políticos.
Moraes é alvo de ações judiciais nos Estados Unidos, movidas pela plataforma Rumble e pela Trump Media & Technology Group, empresa do ex-presidente Donald Trump. As ações decorrem de medidas do ministro contra desinformação nas redes sociais. Em seu discurso, ele não mencionou diretamente o embate judicial, mas destacou o impacto das plataformas digitais na política global.
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Populismo digital e manipulação algorítmica
Na visão de Moraes, há um “novo populismo digital extremista”, no qual redes sociais enfraquecem a democracia. Ele destacou o papel dos algoritmos na polarização política e citou o Brasil como exemplo de país afetado pela instrumentalização das plataformas digitais.
“As big techs não são enviadas de Deus, não são neutras. São grupos econômicos que querem dominar a economia e a política mundial, ignorando fronteiras e legislações para obter poder e lucro”, declarou Moraes. Para ele, essas empresas distorcem conceitos fundamentais, como democracia e liberdade.
O ministro afirmou que o uso das redes sociais como ferramenta de manipulação política ocorre globalmente. Ele mencionou o avanço da extrema direita na Alemanha e a disseminação de desinformação em outros países como reflexo de um modelo que usa algoritmos para direcionar ideologicamente os usuários.
Redes sociais e descredibilização da imprensa
Moraes apontou que uma das estratégias de grupos extremistas é atacar a imprensa tradicional em big techs, deslegitimando informações profissionais e substituindo-as por conteúdos direcionados.
“No mundo todo, as big techs foram instrumentalizadas para atacar os três pilares da democracia”, afirmou. Segundo ele, a tática inclui desacreditar veículos de mídia tradicionais, questionar a integridade do processo eleitoral e enfraquecer o Judiciário.
O ministro destacou que essa estratégia cria narrativas falsas, como a tese de fraude eleitoral, para justificar tentativas de ruptura institucional. Ele associou esse comportamento ao contexto brasileiro, no qual redes sociais foram usadas para disseminar alegações infundadas sobre o sistema eleitoral.
Doutrinação digital e influência política
Moraes também abordou como as redes sociais captam sentimentos de insatisfação e os transformam em ferramenta de manipulação política. Ele ressaltou que plataformas como Facebook, X (antigo Twitter) e YouTube promovem conteúdos que estimulam polarização e reforçam bolhas ideológicas.
“Não foram as big techs que criaram esse sentimento de rancor. Elas souberam captar e transformaram as redes sociais em um mecanismo de doutrinação em massa”, explicou.
Ele citou o ex-ministro da Economia Paulo Guedes, sem mencioná-lo diretamente, ao criticar declarações sobre avanços sociais que permitiram maior acesso da população de baixa renda a bens e serviços antes restritos às elites. Em tom irônico, lembrou a fala sobre “empregada doméstica indo para a Disneylândia”.
Moraes fala sobre saída do X e de outras big techs
Recentemente, Moraes desativou sua conta na rede social X. Durante sua palestra, comentou com ironia: “Eu não tenho mais [rede social], como vocês devem saber. Não posso nem sair do X que já me deduram”.
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O ministro também criticou a dinâmica das redes sociais, que favorecem postagens extremas e conteúdos que geram mais engajamento, independentemente de sua veracidade. Ele argumentou que as plataformas operam em um modelo binário, no qual prevalecem sentimentos de amor ou ódio, sem espaço para moderação.
Defesa da Constituição e resiliência democrática
Apesar das ameaças à democracia, Moraes encerrou seu discurso com uma visão otimista sobre a resiliência institucional do Brasil. Ele ressaltou que a Constituição de 1988 conseguiu resistir a crises políticas e tentativas de golpe, preservando a estabilidade democrática do país.
“O que o Brasil demonstrou foi a resiliência das instituições. Nós podemos criticar a nossa Constituição à vontade, mas ela aguentou dois impeachments e uma tentativa de golpe”, afirmou. Para ele, a defesa da democracia depende da atuação firme das instituições contra tentativas de desestabilização promovidas por interesses privados.
Fonte: Valor