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Mistério dos meteoritos desaparecidos na Antártida foi desvendado

Sob a superfície gelada da Antártida, milhares de meteoritos se escondem afundando lentamente. Entender como essas rochas espaciais foram parar nas profundezas do gelo pode parecer complicado. Porém, uma equipe de pesquisadores descobriu uma maneira simples para desvendar o fenômeno: usaram apenas uma lâmpada, um freezer e blocos de gelo.

Para se entender como as pedras espaciais chegam a Terra, é preciso conhecê-las. Os meteoritos podem ser divididos em três grupos: rochosos, metálicos e mistos. Dentre todos os que atingiram o solo terrestre, a grande maioria é rochosa; apenas 5,5% são mistos ou metálicos.

Meteorito rochoso no Museu de História Natural de Londres.
(Imagem: Daderot / Wikimedia Commons)

Meteoritos de ferro desaparecidos

Porém, na Antártida ocorre algo estranho. Ao se observar os meteoritos recuperados por lá, apenas 0,7% são feitos de metal ou misturas entre rocha e ferro.

Essa não é somente uma pequena discrepância. Isto significa que as chances de alguém encontrar uma rocha espacial à base de ferro são quase dez vezes menores na Antártida do que em qualquer outro lugar.

Os meteoritos metálicos têm alto valor para os cientistas, pois são material base para estudar a formação dos planetas. A Terra tem um núcleo de ferro fundido e, quando ela começou a se formar, a substância ferrosa teria se distribuído por suas outras rochas e gradualmente se misturado a elas.

Atualmente, os cientistas propõem que as pedras espaciais metálicas possam ser fragmentos de planetas que estavam no meio desse processo. Mas, elas se despedaçaram antes de se tornarem grandes o suficiente e passaram a vagar pelo espaço.

Ilustração da formação dos planetas. (Imagem: Jurik Peter / Shutterstock)

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A conversa no pub gerou uma grande pesquisa

Aprender sobre esse fenômeno intrigou o pesquisador Geoffrey Evatt, da Universidade de Manchester, no Reino Unido. Com isso, ele organizou um workshop num pub na zona rural do município para falar sobre meteoritos e gelo.

Diversas pessoas vieram dar palestras, dentre elas esteve a professora de Ciência Planetária, Katie Joy. Ela e Evatt se conheceram através de amigos em comum em um feriado de escalada na Espanha. A doutora já havia caçado rochas espaciais no Polo Sul, por isso foi uma das referências principais para falar do assunto durante o evento.

Foi no workshop que Evatt e Joy começaram a desenvolver uma solução simples para o sumiço de meteoritos no gelo polar. As rochas espaciais metálicas são tipicamente escuras e, por isso, absorvem mais calor da luz solar do que as rochosas de cores mais claras.

Meteorito metálico. (Imagem: MarcelClemens / Shutterstock)

A questão foi: e se as pedras ferrosas estivessem aquecendo a ponto de derreterem o gelo glacial abaixo delas e afundarem nele? Isso faria com que elas ficassem escondidas, longe da vista dos caçadores.

Era apenas uma hipótese, mas explicaria muito do fenômeno, e é tão simples que deveria valer a pena testar. Evatt elaborou o modelo matemático de como as rochas espaciais absorvem a luz do Sol e os números pareciam confirmar a proposta.

Um teste real de como os meteoritos afundam no gelo

Para um teste empírico, precisariam de meteoritos reais, um bloco de gelo, um freezer e uma lâmpada. Isso os levou a Andrew Smedley, outro pesquisador da Universidade de Manchester, especialista em luz solar e na forma como seus comprimentos de onda específicos afetam os materiais.

Junto de alguns alunos, Evatt, Joy e Smedley realizaram uma experiência. Eles congelaram dois meteoritos aproximadamente do mesmo tamanho, um de ferro e outro de pedra, em cubos de gelo especialmente preparados para não conter bolhas de ar, como o verdadeiro gelo encontrado nas geleiras.

Em seguida, a equipe colocou os dois materiais em um enorme freezer e iluminaram a instalação com uma lâmpada especial. A luz projetada imitou o espectro que vem da iluminação solar real.

Eles descobriram que ambos os meteoritos afundaram. Porém, o feito de ferro desce a 2,4 milímetros por hora, quase duas vezes mais rápido que o rochoso

Meteoritos afundados na neve encontrados em expedições na Antártica feitas pela equipe de Evatt e Joy. (Imagem: K. H. Joy et al.)

Em locais onde o fluxo de gelo é impedido pela parte rochosa das montanhas, os meteoritos enterrados são forçados para cima. De acordo com os cálculos, isso significa que, à medida que as rochas espaciais de ferro voltassem a superfície e começassem a absorver a luz solar, elas poderiam afundar novamente mais rápido do que o processo da geleira poderia empurrá-las para cima.

Os rochosos também estão sujeitos a essa força que os leva para cima. Porém, a pressão ascendente vence o derretimento e eles são mantidos na superfície, a vista dos caçadores.

Os resultados levaram a equipe a considerar uma segunda hipótese. Se tudo estiver correto, é possível que centenas de meteoritos estejam escondidos abaixo do gelo na Antártida. O grupo segue em expedição pelo Polo Sul realizando pesquisas.

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