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Kingdom Come Deliverance 2 é tudo que a franquia sempre deveria ter sido – Review

Audentes Fortuna Iuvat!

Como já deve ter ficado claro, eu sou muito fã do primeiro jogo, então esse review é sob a perspectiva de alguém que gosta bastante de seus sistemas, história, personagens e peculiaridades. Eu estou falando isso porque sei que há aspectos de Kingdom Come que não agradam a todos, especialmente pelo seu esforço em trazer o realismo da vida e costumes da era medieval em suas mecânicas e gameplay. É claro que eu também tinha muitas expectativas para essa sequência e um medinho de que ela não conseguiria superar a experiência original.

Felizmente, as minhas expectativas foram todas excedidas e Kingdom Come Deliverance 2 conseguiu superar seu antecessor de todas as maneiras possíveis. Logo de cara, eu posso te dizer que tudo foi aprimorado, desde as mecânicas, até os menus, história, personagens, missões, diálogos, combate e muito mais. No geral, esse realmente parece ser o jogo que a Warhorse Studios queria fazer desde o início, ainda mais em relação à trama, que agora foca muito mais na guerra em Boêmia dos que nos problemas mais mundanos de nobres, camponeses e Henry, nosso protagonista.

A história em si começa exatamente de onde paramos no primeiro jogo, com Henry e Hans Capon em uma missão para entregar uma mensagem de negociação de paz à Otto von Bergow em Trosky, uma cidade bem distante de nossa querida Rattay. Eu não vou falar ou mostrar grandes spoilers sobre a trama, mas dá para dizer que as coisas saem do controle e, em pouco tempo, os dois companheiros se veem sozinhos em uma região nova e sem ter como pedir ajuda de seus antigos aliados.

A partir daí, o game se abre e podemos fazer um pouco de tudo, seja explorar, caçar, roubar ou realizar quests principais e secundárias. Você encontrará as mesmas normas sociais e atividades de antes, além de algumas inéditas, como a possibilidade de trabalhar como ferreiro e construir suas próprias armas e outros objetos de metal. Quando seguir em frente com a trama, vai perceber que a situação política vai escalando em um bom ritmo e que os riscos são bem mais altos do que antigamente.

Desta vez, estamos diretamente envolvidos na resistência contra Sigismundo, o rei que usurpou o trono de seu irmão Venceslau e que foi responsável pela destruição de Skalitz, a antiga cidade de Henry. Em decorrência disso, nós temos que fazer muitas investigações, espionagem, negociações diplomáticas, infiltrações secretas em fortalezas, resgates e, é claro, muitas e muitas batalhas contra os inimigos.

O game anterior até que tinha cenas de ação ocasionalmente, mas nada comparado ao que vemos em Kingdom Come 2, que nos coloca na linha de frente com nosso exército em inúmeras batalhas de ataque e defesa.

Algo que acho importante mencionar é que você não necessariamente precisa ter jogado o game original para aproveitar essa sequência. É claro que seria preferível que você soubesse pelo menos o que aconteceu com Henry em sua jornada anterior, quem é Hans Capon e quais são os aliados e inimigos de nosso protagonista.

Os seus dados salvos não são transferidos para cá, mas você pode responder o que fez em diversas situações quando o jogo abordar esses assuntos.O novo título apresenta muitos desses temas em forma de conversa e conta com tutoriais para todos os seus sistema, mas eu aconselharia ver um curto resumo da trama até o momento atual.

Namoro ou amizade?

É quase impossível falar da história de Kingdom Come 2 sem mencionar a parceria de Henry e Hans, já que ela é um dos pontos centrais do game desde os primeiros segundos. Desta vez, Hans ganha um grande protagonismo e sua relação com Henry passa por diversas evoluções ao longo da trama.

Esse é um enorme acerto na minha opinião, já que quebra um pouco da dinâmica antiga de um Henry solitário o tempo todo, além de tirar grande proveito da química dos dois companheiros, que era notável e muito divertida na aventura original. Um ponto interessante é que esse relacionamento demonstra desde o começo alguns sinais de que há sentimentos mais profundos entre os dois, o que vai evoluindo até atingir um momento em que você decide como Henry deve agir.

Assim como todos os romances com mulheres nos dois jogos, nós somos apresentados com essa a possibilidade, mas passar dos meros sentimentos para algo físico com Hans é totalmente opcional. A questão que quero esclarecer é que independente da direção que você escolhe, essa é uma relação mais profunda nesse jogo, conta com muitas camadas e que vai acontecendo de forma natural ao longo de dezenas de horas.

No escopo geral, o desenvolvimento de sentimentos românticos entre os dois faz bastante sentido e, na minha opinião, torna todo o arco deles desde o primeiro jogo em algo bem mais rico e complexo, mesmo que você escolha não levar isso para frente. Isso também cria ainda mais paralelos entre Henry e seu inimigo István Toth, um tema recorrente nesse jogo. É claro que t endo em conta o contexto da época, em que isso era um grande pecado e poderia ser punido com morte, também faz bastante sentido se Henry preferisse manter apenas uma amizade.

Para quem não sabe, o diretor dos dois games, Daniel Vávra, já declarou ser contra o que ele considera inclusão e diversidade forçada em jogos, além de afirmar explicitamente que ninguém o forçou a colocar nada em Kingdom Come 2 e que tudo acontece exatamente como ele imaginou.

Sua grande preocupação é contar uma história interessante e que poderia facilmente acontecer na Boêmia medieval, mas ainda deixando espaço para o jogador aceitar ou recusar certos elementos que ele quis incluir, como é o caso de Henry e Hans. Seja qual for a sua escolha, não há dúvida de que os laços dessa dupla deixam o enredo muito melhor de começo a fim e você pode encará-los como preferir e como achar que se encaixa melhor na história do seu Henry.

Grandes acertos

Partindo para os outros personagens, não há muito do que reclamar da minha parte. Tantos os rostos familiares como os inéditos são muito interessantes e, diversas vezes, é até difícil saber o que esperar de alguns deles e em quem você deve confiar ou não. Cada um tem um próprio senso de moralidade e dever, o que torna as interações com Henry e o resto do elenco muito mais instigantes.

Kingdom Come Deliverance 2 também sabe bem como equilibrar momentos sérios, decisões morais muito complicadas, comemorações e situações de humor que são genuinamente engraçadas e combinam com o tom do game. Dessa forma, o jogo nunca fica triste e pesado demais e nem cai em bobeiras o tempo todo.

Tudo isso é apresentado em duas regiões inéditas, uma menor que abriga a cidade de Trosky e outros vilarejos ao redor e uma maior, onde encontramos a grande cidade de Kuttenberg, que faz Rattay parecer uma pequena vila rural em comparação. Os dois mapas são maravilhosos de se explorar e, juntos, são duas vezes maior do que o mapa do primeiro game, então já sugiro que você tire um bom tempo para ver tudo que é possível em Kingdom Come 2.

Como esperado, há muitas missões secundárias e atividades que você pode encontrar nas cidades dessas duas regiões, uma forma perfeita para ocupar seu tempo quando quiser tirar uma pausa da guerra contra o Sigismundo. Sendo bem honesta, eu explorei completamente e fiz inúmeras sidequests no primeiro mapa, mas assim que fomos para o segundo, tive que acelerar o ritmo e focar quase que totalmente nos objetivos da trama principal para zerar o game em tempo de fazer esse review.

No total, foram 60 horas cravadas, boa parte realizando as missões principais e sem ver todo o segundo mapa, então definitivamente há muito mais conteúdo para quem tiver a oportunidade de jogar com mais calma, algo que vou voltar a fazer depois desse review. Felizmente, nessas 60 horas eu só tive alguns bugs visuais e de iluminação, mas imagino que eles serão corrigidos em um patch de lançamento ou posteriormente. Quanto à performance, joguei no modo de qualidade e performance no PS5 e eles funcionaram sem problemas, mas não sei como está a situação no PC.

Eu já comentei que a história tem um escopo bem maior, ambicioso e interessante que o anterior, mas tenho que confirmar que amei essa mudança e acredito que mesmo as missões secundárias estão mais caprichadas e com temas diferenciados. É claro que tudo é acompanhado por uma bela trilha sonora que marca uma grande presença para enaltecer sua exploração, combates e momentos tristes ou engraçados.

Aproveitando, o design de áudio também está muito bom e nem preciso falar que o visual está lindíssimo e sem comparações com o primeiro jogo da franquia. Também fico muito feliz de dizer que o texto do game está totalmente localizado em português, algo sempre muito importante para títulos tão focados em narrativa.

Pequenos deslizes

Partindo para outro ponto importante, acredito que o combate melhorou desde o último game, mas ainda sinto que ele é um tanto desajeitado, o que parece ser intencional pelo desejo de oferecer algo realista do período medieval. Cada golpe, chance de defesa ou contra-ataque é muito importante e precisa da sua atenção, mesmo quando já estiver mais forte e melhor equipado. A menos que esteja lutando contra inimigos sem muita armadura, os combates costumam ser difíceis e você não pode simplesmente subestimar seus oponentes.

Os aspectos negativos podem ocorrer quando você está lutando contra muitos inimigos ao mesmo tempo, já que a natureza do combate desajeitado pode te atrapalhar e resultar na morte do seu personagem. Contra inimigos muito fortes, o problema é que a luta pode ser longa e mais tediosa, mas esses encontros específicos não são muito comuns, então é um caso bem isolado. O que não dá para negar é que você não gostava desse estilo de combate no primeiro jogo, eu não acho que sua opinião vá mudar muito agora.

Fora isso, a minha maior reclamação não tem nada a ver com o combate em si, mas a forma como não podemos trocar de roupas ou armaduras quando o jogo acredita que você entrou em uma luta. Isso é um problema porque o game te permite criar três trajes que podem ser alternados a qualquer instante, algo extremamente vantajoso para lidar com situações que exigem furtividade, carisma alto ou uma armadura pesada, por exemplo.

Entretanto, há muitos momentos em que estava usando uma roupa nada apropriada para confrontos logo antes de uma cutscene que me levaria para um combate sem eu saber. Então eu precisava carregar um dado salvo antes dessa cutscene, mudar de roupa e então prosseguir.

Pode parecer algo pequeno, mas como acontece várias vezes e você realmente precisa mudar de trajes em muitas situações, esse ciclo de carregar um save toda vez só para colocar uma armadura se torna irritante e poderia ser facilmente alterado em uma atualização futura. Acredito que bastaria permitir a troca de roupa desde que você não esteja lutando diretamente com um oponente, o que já seria suficiente para resolver a situação.

Kingdom Come Deliverance 2 vale a pena?

Pela leitura desta análise, não é surpresa que Kingdom Come Deliverance 2 vale muito a pena. A ressalva que eu faço é que, como mencionei antes, acredito que há sistemas e mecânicas que não vão ser agradáveis para todos.

Se você não gosta do estilo de combate mais realista, de fazer seu personagem comer, dormir, tomar banho, cuidar de sangramentos, etc, é possível que esse jogo não seja o mais indicado. Isso se torna ainda mais pertinente porque há bem mais ação e cenas de combate do que antes, mesmo que existam situações que ainda possam ser resolvidas na lábia ou na furtividade.

Caso tenha amado o primeiro game, vá sem medo nesse aqui, porque essa é uma experiência muito melhor em todos os aspectos. Se você tem dúvidas, assista um pouco do gameplay e veja se parece com algo que você gostaria.

Embora existam alguns tropeços bem leves aqui e ali, a evolução de Kingdom Come Deliverance 2 foi realmente incrível de se ver e deixou um gostinho de quero mais, além de algumas pontas soltas e assuntos inacabados que já me fazem imaginar que veremos mais aventuras no futuro do nosso destemível Henry de Skalitz.

Kingdom Come Deliverance foi um amor à primeira vista pra mim ainda em 2018. Tanto que esse foi o jogo que me motivou a montar um PC na época, já que meu antigo notebook só era capaz de rodá-lo a 10 frames por segundo no máximo. Quando isso finalmente se concretizou alguns meses depois, o game se mostrou ser tudo aquilo que eu sonhava, mesmo com alguns tropeços compreensíveis de um projeto que arrecadou seu financiamento através do Kickstarter e que tinha uma equipe inicial de desenvolvimento de apenas 11 pessoas.

Agora, 6 anos depois, Kingdom Come Deliverance 2 está entre nós sob a promessa de entregar tudo aquilo que essas 11 pessoas sonhavam em fazer inicialmente, mas agora com os todos recursos necessários e nada menos do que 250 pessoas trabalhando para torná-lo realidade. Eu tive a oportunidade de jogá-lo antecipadamente nas últimas duas semanas e te conto tudo o que achei nessa análise, então vamos lá!

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