EconomyFeaturedGamesNewsPC GamerPS5Top StoriesTrailer

Review: Dynasty Warriors Origins se arrisca em jornada intimista para variar rixa

Era de se esperar que os adeptos do musou (incluindo este redator que vos escreve) estivessem céticos em relação ao próximo passo que a icônica série Warriors daria após os equívocos de Dynasty Warriors 9. O título era ambicioso no papel, mas na prática acabou entregando um mundo aberto sem graça e com poucos estímulos para ser explorado.

A inquietação que afligia seu fã era: o que a Koei Tecmo poderia fazer de diferente para reconquistar a confiança de seu nicho? Afinal, a mudança estrutural implementada, com a intenção de modernizar o nono jogo, acabou prejudicando mais do que ajudando, fazendo com que a franquia perdesse o vínculo com sua essência.

Não vou mentir: eu até gostei de Dynasty Warriors 9, mais do que a maioria. Porém, sei que ele está bem longe de ser unanimidade. A solução que a Koei Tecmo encontrou em Dynasty Warriors: Origins, buscando reaver sua alma, foi olhar para um dos períodos mais turbulentos da China sob a ótica de um novo personagem – e que bom, pois deu certo.

Uma aventura introspectiva

O primeiro e mais notável contraste de Dynasty Warriors: Origins é a presença de um herói sem nome como figura central, cujas memórias se dissiparam, apesar de o seu poder ter sido preservado. Ao despertar em uma vila, o destino leva o protagonista a unir forças com Liu Bei, Guan Yu e Zhang Fei, figuras carimbadas da era dos Três Reinos.

Os eventos de Origins acontecem 150 anos após a fundação da dinastia Han Oriental, num momento em que a fome e o governo opressor desestabilizam a população chinesa, com os conflitos também marcados por movimentos religiosos. Sob o prisma do guerreiro desconhecido, o jogador é convidado a revisitar algumas das fases mais emblemáticas da China, desde a Rebelião dos Turbantes Amarelos até a Batalha dos Penhascos Vermelhos.

Embora os fãs de Dynasty Warriors já tenham os acontecimentos dos Três Reinos gravados na memória, a aventura toma liberdades poéticas e se apega ao que ainda não foi contado – sobretudo, aos pensamentos e devaneios do protagonista. Muito além de recontar a história de forma mais intimista, Origins procura se aprofundar nos impactos do nosso herói como peça-chave nos conflitos do passado, enquanto revela, aos poucos, sua origem e seus objetivos, como o próprio título do jogo sugere.

Reprodução/Tecmundo

Com esse rico contexto histórico em mente, preciso ser o portador das más notícias e dizer que Dynasty Warriors: Origins não tem vozes nem textos em português do Brasil. No entanto, tal como em outros games do estilo musou, muitos dos sistemas são enxutos e autoexplicativos, então dá para jogar numa boa, mesmo sem dominar outro idioma, se o seu objetivo for desfrutar apenas do combate.

A briga é pessoal

Muita gente pode acabar desdenhando do fato de termos um protagonista “fixo”, mas eu já vejo essa mudança de maneira positiva. Sinto, inclusive, a influência de obras da Shonen Jump, não só pelo jeito como o personagem se desenvolve, mas também pela apresentação dos confrontos, em especial no que tange às belíssimas cenas coreografadas que engrandecem a pancadaria.

Os combates de um contra mil preservam a identidade de Dynasty Warriors e encontram a harmonia entre o caos e o tático. Sim, você vai esmagar botões desenfreadamente e acabar piorando sua tendinite, o que é esperado de um musou, mas não dá para abrir mão da estratégia, o aspecto que compõe a espinha dorsal da franquia.

Reprodução/Tecmundo

É preciso saber se posicionar, direcionar os esforços e coordenar as operações dos aliados, uma vez que todas essas ações afetam a barra de moral do seu exército. Com o medidor baixo, a missão falha, naturalmente, e você é levado ao último ponto de controle (ou a um ponto específico do embate) para repensar sua abordagem.

Respaldado por elementos de Character Action, isto é, por jogos na pegada de Bayonetta e Devil May CryOrigins dá uma atenção especial às melhorias de combos e habilidades, tanto ativas quanto passivas, adicionando uma camada técnica à jogabilidade. Sendo mais RPG do que antes, aqui temos um vasto leque de opções para dominar a arte de destroçar centenas de inimigos com um único golpe.

Quando comparado aos games anteriores da série, Origins também se mostra mais articulado nos duelos individuais, já que agora a esquiva tem um grau maior de precisão e, portanto, é mais requisitada. O parry, por sua vez, herda alguns dos ensinamentos de outros títulos da Koei Tecmo, como Nioh e Rise of the Ronin, e se torna exigente, sendo uma solução interessante (ainda que arriscada) para quebrar os escudos dos adversários.

Reprodução/Tecmundo

Com poucas horas de jogatina, você logo percebe que Dynasty Warriors: Origins eleva a barra de qualidade do gênero e não representa um salto tímido, e sim uma transformação geracional. Chega a ser injusto, inclusive, compará-lo ao nono jogo da saga, dada a disparidade entre os dois em relação ao combate, que aqui está turbinado com novos recursos e bem mais satisfatório.

A novidade fica a cargo de uma funcionalidade em que é possível mapear todos os elementos interativos de uma área, seja no mapa do jogo, seja quando você estiver lutando nas arenas. Nas batalhas, entretanto, esse recurso se apresenta ainda mais útil ao destacar as barras de vida de aliados e rivais, contemplando até itens próximos no radar. Uma surpresa bem-vinda, eu diria.

O mapa aberto está de volta, mas…

Fique tranquilo: a Koei Tecmo deu um passo para trás, felizmente, e aposentou a fórmula batida de mundo aberto de Dynasty Warriors 9. O que temos é um mapa ainda aberto, nos moldes dos RPGs tradicionais de antigamente, mas com um escopo mais contido, delimitado por províncias. Há cidades, vilarejos, ferreiros, comerciantes e toda a atmosfera que remonta aos tempos antigos do império chinês.

Reprodução/Tecmundo

As atividades ficam espalhadas pelo mapa e dividem-se entre pequenos conflitos – curtinhos mesmo, que levam de três a quatro minutos –, batalhas de médio porte (que geralmente são tarefas secundárias a serem cumpridas para NPCs) e guerras de grande escala, atreladas ao progresso da história. Você pode farmar experiência, dinheiro e matéria-prima nas missões que surgem de tempos em tempos, já que sempre há algo pendente para fazer pelo mundo, mesmo depois que a história termina.

Pode até parecer que não há um incentivo para cumprir essas missões, mas ele existe. Todas as regiões, por exemplo, têm um medidor de paz. À medida que cumprimos favores para NPCs da área e concluímos objetivos, nosso herói passa a ser reconhecido por seus feitos e, como em um bom RPG, recebe recompensas valiosas para se fortalecer.

Como existem altos e baixos em absolutamente todos os games, a ressalva de Origins se manifesta no formato antiquado de seu mundo. Não que eu tenha tido alguma dificuldade ou tenha achado o mapa monótono; não é nada disso. O problema é que esse elemento destoa da qualidade do jogo como um todo, assim como uma má escolha de design – ou talvez seja só falta de orçamento para almejar algo mais ambicioso.

Reprodu

Adeus, visual de PS3

Tudo bem que Dynasty Warriors nunca foi uma franquia conhecida pelo seu primor técnico, mas o último jogo da série já parecia bastante ultrapassado quando foi lançado em 2018 para PlayStation 4, Xbox One e PC. Origins, por outro lado, por mais que não seja um benchmark da atual geração, ao menos parece ter sido projetado com os consoles atuais em mente.

A começar pelas cutscenes, por exemplo, que estão mais caprichadas e cinematográficas do que antes. Os modelos de personagens agora têm rostos mais convincentes, os ambientes estão mais detalhados e densos, não apenas no que diz respeito a inimigos e vegetação, mas também a coisas com as quais podemos interagir. Tudo isso com alto nível de qualidade e virtudes técnicas que chegam a surpreender – é claro, considerando os parâmetros do que já vimos em Warriors.

Origins, contudo, não seria um Dynasty Warriors se não tivesse um ou outro deslize crasso, como os constantes pop-ins, além de objetos e personagens que parecem não ter sido carregados a tempo em distâncias relativamente curtas, inclusive no PlayStation 5 Pro, console que utilizamos para testes (vale lembrar que Dynasty Warriors: Origins tem um modo otimizado para o recém-lançado hardware da Sony). Apesar dos elogios, é preciso estar ciente de que ajustes técnicos ainda são, sim, necessários.

Reprodução/Tecmundo

Veredito

No final das contas, Dynasty Warriors: Origins ainda é sobre descer o sarrafo numa quantidade obscena de oponentes, agora com uma motivação pessoal por trás de tudo. O gameplay sempre foi o que impulsionou a experiência (e nada mudou nesse sentido): a jogabilidade continua proporcionando uma estranha satisfação quando os inimigos saltam como pipoca na panela a cada golpe.

Com novas ferramentas que diversificam o combate, a franquia Dynasty Warriors parece, enfim, ter reencontrado o caminho ideal para seguir cultivando o gênero que criou.

Nota do Voxel: 85

Pontos positivos:

  • Bater em centenas de bonecos ao mesmo tempo nunca foi tão satisfatório;
  • Melhorias bem-vindas nos sistemas de parry e esquiva;
  • Jornada íntima fez bem à narrativa;
  • Salto técnico substancial, em contraste com antecessor;
  • Mais profundidade no sistema de progressão.

Pontos negativos:

  • Alguns bugs visuais;
  • A estrutura do mundo é um tanto indigesta para os padrões atuais.

Era de se esperar que os adeptos do musou (incluindo este redator que vos escreve) estivessem céticos em relação ao próximo passo que a icônica série Warriors daria após os equívocos de Dynasty Warriors 9. O título era ambicioso no papel, mas na prática acabou entregando um mundo aberto sem graça e com poucos estímulos para ser explorado. 

A inquietação que afligia seu fã era: o que a Koei Tecmo poderia fazer de diferente para reconquistar a confiança de seu nicho? Afinal, a mudança estrutural implementada, com a intenção de modernizar o nono jogo, acabou prejudicando mais do que ajudando, fazendo com que a franquia perdesse o vínculo com sua essência.

Leia mais…

Facebook Comments Box