Desenvolvimento embrionário estava programado antes do 1º embrião surgir
Pesquisadores descobriram, estudando as primeiras formas de vida da Terra, um paralelo interessante com a história do “ovo e da galinha” — aparentemente, as criaturas primordiais conseguiam se desenvolver como embriões antes mesmo dos primeiros animais surgirem. A pesquisa foi liderada pela bioquímica Marine Olivetta, da Universidade de Genebra.
Clique e siga o Canaltech no WhatsApp Cientistas estão próximos de entender a origem da vida graças a novo estudo Quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?
O bicho estudado em questão vive enterrado na sujeira dos mares rasos do mundo, sendo apenas um micróbio da classe Ichthyosporea. Em sua reprodução, o minúsculo ser entra em processo de divisão celular muito parecido com o desenvolvimento de um embrião, mesmo sendo uma espécie unicelular (neste caso, chamada Chromosphaera perkinskii).
O embrião antes do animal
A C. perkinsii já está no mundo há mais de um bilhão de anos, muito antes dos primeiros animais. Sua programação, que inclui coordenação multicelular e diferenciação, mostra que a vida estava preparada para os ovos muito antes dos ovos existirem — ou os óvulos, neste caso.
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O processo de divisão por clivagem dessa criatura unicelular mostra que a programação embriônica sempre esteve presente na vida, mesmo antes do 1º embrião (Imagem: Olivetti et al./Nature)
Todo organismo multicelular começa a vida do mesmo jeito: dois gametas se misturam e fundem, começando a divisão celular e crescimento. Os primeiros estágios da divisão são chamados de clivagem, quando muitas das separações entre as células acontecem rápido e sem crescimento.
O resultado é um aglomerado de células oco no meio, como uma framboesa, chamado blástula. Nos organismos unicelulares, o processo é usado como forma de reprodução, onde as células resultantes se separam da “mãe” e ficam independentes.
Os cientistas já tinham traçado paralelos entre os dois processos, mas os Ichthyosporea, agora, estão sendo tratados como um modelo para entender as origens do processo, e, por consequência, dos animais.
A chave está no fato de que eles são uma classe de organismos unicelulares que se diferenciaram da linhagem que produziu os animais há mais de um bilhão de anos, sendo parentes próximos deles. Os C. perkinsii são um dos poucos Ichthyosporea que não são parasitas, e sua reprodução é bastante similar à mitose animal.
O ciclo de vida do organismo unicelular, muito semelhante ao desenvolvimento de um embrião no reino animal (Imagem: Olivetti et al./Nature)
Ao estudá-los, os cientistas notaram que, após a clivagem, eles formam um aglomerado muito parecido com a blástula. Nessa “colônia”, há dois tipos de células, que ficam unidas por boa parte do ciclo de vida antes de se espalharem e seguirem com suas próprias atividades. É a prova de que o desenvolvimento embrionário já estava programado nos organismos muito antes do primeiro embrião existir.
Isso pode indicar duas coisas: evolução convergente ou um ancestral comum. Às vezes, traços ou processos feitos por organismos podem surgir independentemente, o que é chamado de evolução convergente.
Os C. perkinsii são os únicos Ichtyosporea a se desenvolverem dessa forma — na verdade, as únicas criaturas, fora os animais. Por outro lado, pode ser que os animais e esses seres unicelulares simplesmente tenham um ancestral comum. Para saber mais, só há um jeito: pesquisando mais profundamente.
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