Crítica – Moana 2 diverte com energia aventuresca, embora seja repetitivo
Sequência da querida animação da Disney segue a mesma estrutura do original sem ir tão além de sua capacidade
Não é de hoje que a Disney vem usando suas animações para explorar temáticas que dialogam com todos os públicos, especialmente diante das exigências de espectadores que se tornam cada vez mais engajados com questões sociais. Frozen: Uma Aventura Congelante (2013), por exemplo, rompeu com a ideia de amor romântico (algo que está no cerne de clássicas animações de princesas do estúdio, diga-se de passagem) para explorar a relação de duas irmãs, falando sobre identidade e aceitação no universo feminino de uma maneira que Moana (2016) também acatou em seu primeiro filme ao contar a história de uma jovem que sonhava em ser livre para descobrir quem ela era de verdade.
É partindo das mesmas ideias que Moana 2 chega aos cinemas mundiais quase 10 anos após o lançamento do primeiro longa-metragem. Pincelando na trama a importância da conexão entre diferentes povos e culturas para o fortalecimento do coletivo, a animação repete a mesma estrutura de seu antecessor ao colocar Moana (Auli’i Cravalho) em mais uma aventura perigosa pelo oceano para salvar a ilha onde vive. Embora perca a mão na adição de subtramas que são pouco (ou quase nada) exploradas, Moana 2 ainda consegue divertir com o carisma dos personagens principais e uma protagonista mais segura de si e de seus propósitos.
Ficha técnica
Título: Moana 2
Direção: David G. Derrick Jr., Jason Hand e Dana Ledoux Miller
Roteiro: Jared Bush e Dana Ledoux Miller
Data de lançamento: 28 de novembro de 2024
País de origem: Estados Unidos da América e Canadá
Duração: 1h 40min
Sinopse: Após receber um chamado inesperado de seus ancestrais, Moana deve viajar pelos mares distantes da Oceania e entrar em perigosas águas perdidas para viver uma aventura sem precedentes.
Pôster de Moana 2.
Encontre o caminho (mais uma vez)
Após encontrar sua essência durante uma perigosa missão pelo oceano para devolver o coração de Te Fiti e, assim, salvar seu povo da destruição total, Moana agora sabe exatamente quem ela é. Determinada a continuar mantendo a ilha em plena harmonia, a jovem que costumava duvidar da própria capacidade para enfrentar desafios passa usar sua autoconfiança e a tão amada liberdade para continuar promovendo a paz entre os habitantes do local.
Mas Moana quer mais. Certa de que existem outras ilhas espalhadas pela vastidão do mar, Moana não consegue deixar de lado a vontade de, novamente, ir em direção ao desconhecido para descobrir novos mundos. Até que, certo dia, a jovem recebe um chamado de seus ancestrais que, finalmente, a coloca em uma nova missão pelo oceano, desta vez, para salvar a essência de sua comunidade em uma aventura ainda mais aterrorizante.
Em Moana 2, a protagonista atende a um chamado de seus ancestrais para embarcar em mais uma missão perigosa.
A primeira impressão que Moana 2 passa, à medida que sua premissa é apresentada ao espectador, é a de que já vimos aquilo antes. Mesmo que as circunstâncias sejam diferentes, não dá para negar que a sequência do bem-sucedido filme de 2016, que contou com os prestigiados diretores e animadores John Musker e Ron Clements (Aladdin, A Pequena Sereia) no comando, não somente soa repetitiva, como também parece querer caminhar por águas mais seguras (algo que Moana, com certeza, não faria).
Agora nas mãos dos diretores estreantes David G. Derrick Jr., Jason Hand e Dana Ledoux Miller, Moana 2 segue os mesmos passos de sequências hollywoodianas da atualidade que, talvez para se manterem na zona de conforto e não correrem riscos em uma indústria instável, preferem pegar o atalho mais fácil (e mecanizado) para ganhar números.
Divertida Mente 2 (2024), por exemplo, chegou aos cinemas em junho deste ano repetindo a mesma estrutura narrativa da animação original sem ser muito inventivo e, ainda assim, quebrou recordes para a Pixar e se mantém até hoje no topo do ranking de maiores bilheterias do ano. Meu Malvado Favorito 4 (2024), outro baita sucesso de bilheteria do ano, também não trouxe nada de novo à franquia, e ainda assim levou multidões às salas de cinema, ajudando a consolidar um ano em que sequências dominaram o mercado cinematográfico.
Dinâmica de Moana com Maui, Hei Hei e Puá são destaques do novo filme.
É nesse cenário que Moana 2 se insere, trazendo mais uma aventura da protagonista titular que mais parece uma cópia do filme original do que algo novo. Se por um lado a animação não decepciona tanto justamente por trazer a mesma energia contagiante do primeiro longa, por outro fica a sensação de que a produção poderia ter ido além, assim como Moana também vai durante sua missão para combater as forças do mal que podem destruir tudo aquilo que ela ama.
Embora Moana se apresente mais madura e segura de si na sequência, o ritmo truncado da narrativa, que parece apenas jogar informações ao vento, faz com que a animação perca um pouco do apelo que seu antecessor tanto recebeu em meados de 2016. Moana está, sim, mais independente e destemida, e é ótimo revisitar sua divertida dinâmica com o imponente Maui (Dwayne Johnson), além de acompanhar sua relação com novos personagens, como a fofa irmã mais nova, Simea (Khaleesi Lambert-Tsuda), e até mesmo com o caótico galo Hei Hei (Alan Tudyk).
Mesmo com adição de novos personagens, trama de Moana 2 tenta repetir estrutura da animação original.
Porém, a trama pouco fundamentada não consegue se sustentar muito para além do carisma de um universo que já é tão conhecido e querido pelo público. A insistência em repetir acertos do passado (há até uma sequência musical de Maui no segundo longa que possui visuais extremamente semelhantes ao da canção De Nada, que está no primeiro filme) mais prejudica do que ajuda o desenvolvimento de uma história que, por mais divertida que ainda seja, parece incompleta com suas temáticas “jogadas”.
Outro ponto que não dá para ignorar em Moana 2 é que a ausência de Lin-Manuel Miranda (Hamilton, Encanto) na trilha sonora é extremamente sentida. Ao lado de Mark Mancina (Tarzan) e Opetaia Foa’i (Moana), Miranda ajudou a construir o universo de Moana com composições contagiantes, como How Far I’ll Go (Saber Quem Sou, na versão em português) e Shiny (Brilhe, na versão em português), a famosa canção do Tamatoa, o caranguejo antagonista. O segundo filme ainda conta com Mark Mancina e Opetaia Foa’i na trilha, mas as canções não são tão vibrantes quanto as do filme original, o que deixa a desejar quando nos lembramos do potencial musical da primeira produção.
O que há além
Moana 2 tem seus problemas de fundamentação e, infelizmente, apega-se em demasia ao que deu certo no primeiro para dar continuidade às aventuras da protagonista, mas ainda assim se depara com boas ideias no caminho.
A principal delas, claro, ainda segue sendo a força de Moana como a heroína da história. Em meio a brincadeiras do roteiro sobre seu status de princesa da Disney, Moana, assim como Elsa e Anna em Frozen, foge da ideia da “boa e obediente moça” que clássicos do estúdio, como Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e Cinderela (1950), ainda seguem espalhando por aí, embora estes sejam devidamente repensados hoje em dia graças às discussões feministas contemporâneas.
Assim como no primeiro filme, Moana se mostra como uma heroína forte e autoconfiante em sequência.
Assim como na primeira animação, Moana se mostra confiante e segura de si, sem precisar se apoiar no amor romântico para que a trama avance. Ela é dona de sua própria aventura e, no segundo filme, torna-se ainda mais independente para realizar suas vontades e desejos, navegando por mares turbulentos e sobrevivendo a qualquer tipo de força maligna. Mesmo em momentos de insegurança, Moana ainda é capaz de se reconectar com sua essência para encontrar a solução para todo e qualquer problema que passar pela sua frente.
É exatamente isso que Moana 2 celebra, enquanto também ressalta a importância do coletivo para evoluirmos como seres humanos. Apesar de fazer pouquíssimos acenos à conexão de culturas e povos diferentes para avanços sociais, algo que vemos Elementos (2023) tentar fazer falando sobre imigração e intolerância, a sequência de Moana consegue encontrar espaço entre as incertezas da perigosa jornada rumo ao desconhecido para mostrar que, por mais que possa parecer o contrário, ninguém anda pelo mundo completamente sozinho.
Com a ajuda de um grupo de personalidade inusitada, Moana parte em busca de novos povos na imensidão do mar.
Basta ver como, ao longo de sua trajetória para encontrar novos povos no oceano, Moana recebe apoio de um senhor rabugento, uma construtora perfeccionista e um rapaz que só pensa em conhecer seu ídolo, Maui. Claro, no meio disso tudo ela também conta com a ajuda de um semideus, Hei Hei e do porquinho Puá, um trio para lá de carismático para arrancar uma risada ou outra do público.
Assim, nos momentos em que Moana 2 mais precisa recuperar seu fôlego, é por meio da união entre a heroína titular, Maui e o time peculiar que a sequência retoma o ânimo e a energia divertida, mesmo sem contar com o brilhantismo da trilha sonora de 2016. Afinal, às vezes tudo que você precisa é ver as presepadas de um galo caótico para sentir a leveza de uma boa aventura.
Graças a esse carisma coletivo e ao tom aventuresco já conhecido do original, Moana 2 apresenta uma boa diversão, já que abraça a mesma atmosfera de seu antecessor para dar continuidade à história da heroína dos mares. É repetitivo e truncado por não saber como desenvolver as várias pontas que solta na trama, mas consegue recuperar a energia no emocional e na exploração da personalidade de Moana, que segue sendo uma das personagens mais interessantes do universo da Disney, mesmo quando falta coragem do estúdio para levá-la além.
Nota: 3/5.
Moana 2 estreia em 28 de novembro nos cinemas.
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Fonte: Crítica – Moana 2 diverte com energia aventuresca, embora seja repetitivo“>Legião dos Heróis.