Lucy: 50 anos da descoberta que transformou a história da evolução humana
Há meio século, uma descoberta na Etiópia reescreveu os capítulos da evolução humana. Até então, acreditava-se que nossos ancestrais evoluíram de maneira linear: ficaram mais altos, ganharam cérebros maiores e aprenderam a andar sobre duas pernas, culminando nos Homo sapiens.
Essa visão simplista foi popularizada por imagens como a “Marcha do Progresso”, que mostrava uma evolução contínua de macacos a humanos modernos. No entanto, em 24 de novembro de 1974, um esqueleto de 3,2 milhões de anos apareceu para desafiar esse conceito, recebendo o nome de Lucy.
A pesquisa liderada pelo paleoantropólogo Donald Johanson foi descrita em um artigo publicado em 1978, trazendo detalhes que transformaram nossa compreensão sobre como nos tornamos humanos.
O joelho que mudou tudo
Quando Johanson encontrou os ossos de Lucy, eles pareciam normais, a princípio. No entanto, o formato do joelho era surpreendente, sugerindo que Lucy andava ereta, como os humanos modernos. Até então, acreditava-se que o bipedalismo só havia surgido com cérebros maiores.
“Isso mostrou, sem dúvida, que ela andava ereta. Foi um divisor de águas para nossa compreensão da evolução humana”, afirmou Johanson ao site alemão DW. Segundo ele, o fato de Lucy ter um cérebro pequeno, semelhante ao de um chimpanzé, derrubou a ideia de que caminhar ereto e o aumento da inteligência surgiram simultaneamente.
“Lucy solidificou o argumento de que nossos ancestrais aprenderam a andar antes de desenvolver cérebros grandes e habilidades cognitivas mais avançadas”, disse o paleoantropólogo.
Reconstrução da aparência e do esqueleto de Lucy, mulher pré-histórica que viveu há 3,2 milhões de anos. Créditos: Museu de História Natural de Cleveland
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A evolução humana é como uma árvore ou um rio
A descoberta de Lucy também desafiou a ideia de que a evolução humana era uma linha reta. Hoje, cientistas comparam esse processo a uma “árvore espessa”, com muitos galhos representando diferentes espécies. Alguns desses galhos cresceram e evoluíram, enquanto outros foram cortados pela extinção.
Uma metáfora alternativa, proposta pelo paleoantropólogo Andy Herries, é a de um “rio trançado”, em que populações humanas primitivas cruzavam entre si, evoluíam ou desapareciam. Essa abordagem explica fenômenos como o cruzamento entre Homo sapiens e neandertais e a extinção de espécies como o Homo floresiensis, que habitou a Indonésia até cerca de 50 mil anos atrás.
Donald Johanson, responsável pela descoberta de Lucy, que recebeu esse nome em referência à música dos Beatles “Lucy in the Sky with Diamonds”, de 1967, que foi tocada em voz alta e repetidamente no acampamento de expedição. Crédito: Instituto de Origens Humanas/Universidade Estadual do Arizona
Sobre Lucy, o fóssil mais famoso do mundo:
A espécie foi classificada como Australopithecus afarensis, uma homenagem ao povo Afar da região onde foi encontrada;
Embora provavelmente não seja nosso ancestral direto, sua descoberta foi crucial para revelar a complexidade da evolução humana;
O legado de Lucy também ajudou a identificar outras espécies primitivas que coexistiram há cerca de três milhões de anos.
Apesar das lacunas que ainda existem na história, cada novo fóssil encontrado expande nosso conhecimento sobre como nos tornamos Homo sapiens. Para Johanson, Lucy é um símbolo dessa busca. “Ela se tornou um mascote da evolução, ajudando a construir uma visão mais rica e detalhada de nossas origens”.
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