70% dos RHs do Brasil ainda não usam IA, revela estudo
Sete em cada dez dos departamentos de recursos humanos no Brasil não fazem uso da inteligência artificial (IA) em seus processos diários. É o que mostra uma pesquisa feita pela plataforma Think Work em parceria com a gestora de benefícios Flash divulgada recentemente.
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Os dados foram coletados entre os meses de junho e julho de 2024 e contaram com respostas de mais de 300 profissionais de RH. Os números do estudo demonstram uma aposta ainda tímida do setor no uso da tecnologia em suas atividades regulares.
Isso porque apenas 6% das empresas respondentes do segmento se consideram maduras digitalmente, somados aos 40% que afirmam não terem iniciado movimentos práticos para digitalização de seus processos.
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Especialistas em recursos humanos ouvidos pelo Canaltech afirmam que apesar de a IA ser uma ferramenta agregadora para os processos do setor de RH, é preciso capacitar e letrar os profissionais no controle e uso desses recursos, principalmente a inteligência artificial.
A capacitação é uma preocupação do setor frente aos 30% dos respondentes da pesquisa que afirmam que a falta de conhecimento dos profissionais de RH sobre IA impacta diretamente o uso da ferramenta nas operações.
Outra apreensão está relacionada diretamente com o medo dos 47% profissionais de perderem seus empregos para a IA. A pesquisa aponta também as dificuldades técnicas e falta de infraestrutura nos departamentos como motivos chave para a não inclusão de novas tecnologias nos departamentos.
Desafios da tecnologia no RH
O receio de perder o emprego é uma das dificuldades para o avanço da tecnologia em diversos segmentos, incluindo os departamentos de RH.
A presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH-RJ), Lúcia Madeira, reforça que a aplicação de novas tecnologias no setor não implicará necessariamente em redução do quadro de funcionários, mas sim em um “melhor aproveitamento do tempo dos profissionais de RH”.
Já a especialista em carreira e desenvolvimento profissional, Stephany Borowiec, aponta o acesso a recursos como um dos principais desafios para a aplicação de novas tecnologias no RH.
“Empresas com menor aporte financeiro, frequentemente, têm dificuldade em investir em tecnologia de ponta, o que limita seu potencial competitivo, assim como a capacitação de funcionários em novas tecnologias”, explica.
Ela realça que as empresas que implementam novas tecnologias precisam ter a consciência de que algumas pessoas enfrentam dificuldades no uso desses recursos e que é preciso capacitá-las para conseguirem desempenhar suas funções ao utilizar a IA.
Para as empresas que ainda não adotaram o recurso, a falta de capital para o investimento lidera a lista das barreiras que precisam ser ultrapassadas:
A pesquisa separou os maiores barreiras para as empresas que ainda não usam IA. (Gráfico: Emanuele Almeida | Dados: Think Work e Flash)
IA na prática
O diretor executivo da agência de inovação Mugo, Marcelo Souza, diz que a empresa aplica a IA nos processo de recrutamento e seleção e análise de performance dos funcionários como uma forma de “otimizar o tempo e proporcionar treinamentos e direcionamentos aos colaboradores”.
Ele avalia que a implementação de novas tecnologias “sempre causam estranheza”. Como solução, observa que é preciso ser transparente com os processos e mostrar à equipe o quanto as ferramentas facilitam o dia a dia e deixam o RH livre para focar em ações mais estratégicas.
A Mugo, segundo o executivo, conseguiu inserir a IA dentro dos processos sem muitos percalços. Porém, essa não é a realidade de todas as organizações, uma vez que muitas enfrentam barreiras como receio dos funcionários, limitação financeira e falta de estrutura, condições que encabeçam a lista dos desafios enfrentados pelos departamentos de RH, de acordo com o estudo. Confira os maiores desafios:
A pesquisa listou os maiores desafios para empresas que usam IA nos processos. (Gráfico: Emanuele Almeida | Dados Think Work e Flash)
Na Mugo, Marcelo ressalta que não teve problemas financeiros ao implementar a IA, mas sim desafios na adaptação dos funcionários às novas ferramentas: “Para algumas pessoas ainda é difícil largar as planilhas de Excel. Mas quando elas se deparam com uma ferramenta que otimiza seu tempo e entrega resultados assertivos, o olhar passa a ser outro”, relata.
No que diz respeito à implementação dessas novas tecnologias, a especialista em gestão de pessoas Rosa Benhoef explica que é preciso considerar os resultados para curto, médio e longo prazo, dado que os gastos da inserção são, em sua maioria, significativos e é preciso investir em treinamentos e letramento sobre as novas ferramentas.
Viéses e diversidade
Especialistas alertam para processos mais rigorosos no uso da ferramenta nas fases de recrutamento e seleção para combater vieses e priorizar a diversidade.
De acordo com a pesquisa, das empresas que já utilizam IA em seus processos, 42% incluíram a ferramenta nos processos de recrutamento e seleção e outros 17% aplicam a ferramenta em plataformas de diversidade e inclusão.
Nesse ponto, para Rosa, um processo de implementação crítico que analise os impactos da ferramenta para além dos algoritmos é essencial para garantir um processo transparente que priorize a condição humana e de bem-estar dos candidatos.
“Nos processos de recrutamento, a IA pode fornecer ganho de tempo e volume de processamento e triagem, mas é preciso que seja feito sem que tornem o candidato uma commodity”, completa a especialista em gestão de pessoas.
A presidente da ABRH-RJ ressalta que, apesar de a inteligência artificial conseguir eliminar opiniões pessoais das escolhas, ela ainda pode reforçar preconceitos a depender da forma que for desenvolvida e alimentada pelos dados.
“A inteligência artificial pode dar um peso maior a critérios que podem representar discriminação ou preferências – os vieses inconscientes – e, por exemplo, favorecer candidatos de sexo masculino ou mais jovens”, acrescenta Lúcia Madeira.
Stephany Borowiec, aponta dois pontos principais no uso da IA nos processos de recrutamento e seleção: a transparência e a qualificação dos dados. Segundo a especialista em carreira e desenvolvimento profissional, é preciso garantir que os sistemas sejam transparentes e compreensíveis tanto para os profissionais quanto para os candidatos.
Em relação aos dados, ela afirma que uma coleta bem estruturada e contínua de informações, garantem um processo melhor qualificado em com menos preponderância de vieses.
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